Afinal, a fênix é de qual mitologia?

Muitos ficaram surpresos com a fênix no filme Mulan, remake do desenho de 1998 da Disney. Não pela ave lendária em si, já que ela marca presença em várias histórias de fantasia, seja em filmes, games ou livros. Mas pelo fato dela não existir na obra original. Para entender porque a incluíram nesse novo filme, vamos conhecer sua lenda, que existia não só nas antigas lendas asiáticas, mas entre os egípcios e os gregos. Afinal, a fênix é de qual mitologia? Vamos descobrir abaixo!

O mais belo pássaro lendário

A fênix é um pássaro com porte de águia, mas bem maior, e traços de faisão. As suas penas têm as mais belas cores: vermelho-fogo, azul-claro, púrpura e ouro. Todos diziam que a fênix era infinitamente mais bela do que o mais belo dos pavões. Segundo a lenda, no momento em que vê a morte chegar, a fênix faz um ninho de madeira e resina de cheiro doce. Depois, ela fica exposta aos raios do sol até se reduzir às chamas. Em seguida, uma nova fênix nasce do núcleo dos seus ossos.

A simbologia da fênix

A mitologia da fênix vem do Egito, onde foi relacionada com o culto do Sol, mas suas origens estão na Etiópia. O historiador Heródoto foi o primeiro a falar da ave fabulosa. Depois dele, os poetas, os mitógrafos, os astrólogos e os naturalistas deram mais detalhes à lenda.

A fênix era um pássaro sagrado para os egípcios, que a representavam como a garça ou falcão dourado com cabeça de garça. Era a personificação do deus-sol (que se instalou na colina primordial quando o mundo surgiu), bem como dos ciclos solares e das cheias anuais do rio Nilo.

A tradição turca deu à fênix o nome de Kerkés e a persa a chamou de Simurgh. Na China, era a imperatriz das aves e simbolizava o sol. Analogamente, era o símbolo da destruição e recriação cíclicas. Este aspecto, dado pelos egípcios, foi reinterpretado pelos gregos, pelos romanos e, finalmente, pelos padres da Igreja. Tornou-se, então, o símbolo do pássaro que se consome no fogo e renasce das cinzas de tempos em tempos. Assim sendo, tinha relação principalmente com a morte e a ressureição.

A morte e a ressureição

Ideia de unidade: fênix levantando voo no plano de fundo e Mulan à frente.

Havia a crença de que a fênix era a única da sua espécie. Portanto, era incapaz de se reproduzir como os outros bichos. No momento em que sua vida chegava ao fim, ela colhia plantas aromáticas, juntava incenso e fazia um ninho. Então, ateava fogo nessa “pira fúnebre” de cheiro doce. Das suas cinzas nascia uma nova fênix. Por isso, o pássaro lendário virou símbolo da ressureição e da imortalidade.

Além de ser um animal de culto dos ancestrais, o significado da fênix parece óbvio em Mulan. Isso porque a protagonista, enquanto mulher, deve “renascer” das próprias cinzas para afirmar a sua identidade e honrar sua família. Não por acaso, a figura da fênix a segue em sua jornada. No duelo final contra o grande vilão, a heroína e a fênix parecem tornar-se uma só. Vale lembrar que o novo filme tem mais relação com a lenda chinesa de Mulan, não com a primeira adaptação da Disney.

Referências

Dicionário de mitologia grega e romana (2011), de Pierre Grimal.

A Dictionary of Symbols: Revised and Expanded Edition (2020), por Juan Eduardo Cirlot.

Dicionário de símbolos (1998), por Herder Lexicon.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Afinal, a fênix é de qual mitologia?, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/afinal-de-que-mitologia-vem-a-fenix/. Acesso em: 02/03/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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