A aurora boreal na mitologia e em AC Valhalla

Quando partículas eletronicamente carregadas interagem, criam na atmosfera um show de luzes conhecido como “aurora boreal”. Através dos tempos, esse fenômeno singular surgiu em muitas histórias. Em especial no Polo Norte, onde deu origem a lendas e, não surpreendentemente, ganhou o nome de “Luzes Nórdicas”. Mas qual o significado da aurora boreal na mitologia? O que diziam os povos antigos, no momento em que olhavam para cima e viam um belo rastro de cores e luzes? Seriam espíritos, deuses ou guerreiros celestiais? Descubra abaixo! Além disso, veremos como a equipe nórdica da Ubisoft se dedicou a esse espetáculo visual para criar os mais belos cenários de Assassin’s Creed Valhalla.

Mitologia greco-romana: Aurora Borealis

As palavras gregas “Aurora” (“nascer do sol”) e “Boreas” (“vento”) deram origem a Aurora Borealis. Foi o físico Galileu Galilei quem criou o termo no século XVII, mas acredita-se que os antigos poetas gregos já se referiam assim à aurora. Talvez de forma figurativa, já que o fenômeno não é comum ao sul.

Na mitologia grega, Aurora era irmã de Hélio e Selene (o Sol e a Lua). Ela abria as portas do céu com seus dedos róseos, então corria em sua carruagem de muitas cores para avisá-los sobre o novo dia. Os romanos também associaram as “Luzes Nórdicas” a essa mesma deidade e ao amanhecer. Por sua vez, Bóreas é o Deus do Vento do Norte. Filho de Aurora, ele surge como um demônio alado.

Norte da Escandinávia, Islândia e Groenlândia

Para os ancestrais dos islandeses, as “Luzes Nórdicas” não só tinham relação com o nascimento, como também podiam aliviar as dores do parto. Mas, se a mãe olhasse para elas enquanto “dava à luz”, seu filho nasceria vesgo. Seu efeito, portanto, seria negativo. Também era assim na ilha da Groenlândia, onde se acreditava que as luzes eram as almas de bebês que morriam no parto.

Na Finlândia, contava-se de uma raposa que correu pela neve rápido a ponto de sua cauda gerar faíscas. As faíscas subiram até o céu noturno, assim criaram a aurora. Aliás, a tradução do termo finlandês para a aurora boreal (“revontulet”) é, literalmente, “raposa de fogo”. De acordo com outra crença do povo Sámi (da Lapônia finlandesa), as luzes vieram da espuma da água que sai das baleias.

Na Suécia, a crença era que a aurora trazia boas notícias, pois suas luzes eram a dádiva de deuses bondosos que davam calor e luz aos mortais. Também podiam ser o reflexo de grandes cardumes de arenque, ou seja, um sinal de boa sorte para os pescadores locais. Para a população agrária sueca, as luzes indicavam uma boa colheita no ano seguinte.

A aurora boreal para os povos nórdicos

Em O livro da mitologia (1867), Thomas Bullfinch diz que a aurora boreal vem do reflexo da armadura das Valquírias, guerreiras e mensageiras de Odin. Assim sendo,

Quando elas cavalgavam pelos campos, suas armaduras emitiam um estranho brilho bruxuleante, que iluminava os céus nórdicos, produzindo aquilo que conhecemos como Aurora Boreal ou Luzes Nórdicas”.

Contudo, não há indício na antiga literatura nórdica que sustente essa ideia. Talvez ela seja resultado de má-interpretação do mito, ou mesmo um adendo que o folclore local fez posteriormente.

Parece igualmente incorreto ligar a aurora à “Bifröst”, ponte brilhante que dava acesso ao Valhalla (lugar de repouso eterno dos guerreiros mortos). De acordo com o Edda em prosa, a ponte era na verdade o arco-íris, também de muitas cores.

Por mais estranho que pareça, não há menção à aurora boreal na mitologia nórdica. Mas, embora seu significado para os antigos vikings seja ainda desconhecido, é um recurso visual em Assassin’s Creed Valhala (2020). No game da Ubisoft, o jogador não apenas luta ao lado dos vikings, como também faz um giro pela Escandinávia do século IX. No caminho, pode avistar o fenômeno típico dos países do Norte. E os gráficos do game deixam a experiência ainda mais espetacular.

Em busca das imagens perfeitas

Foto de Steffen Walstad.

Nas famosas ilhas de Lofoten, as Luzes do Norte dançam no céu e o clima pode ser ao mesmo tempo seu pior inimigo e seu melhor amigo. Lá, uma equipe da Ubisoft teve que suportar tudo, desde granizo a ventos tempestuosos, mas as belas e misteriosas luzes finalmente apareceram. O objetivo era capturar imagens perfeitas no local que serviu de inspiração para AC Valhalla. Dessa maneira, em sua viagem ao extremo norte da Noruega, a Ubisoft criou a experiência mais espetacular para seu novo jogo.

“As Ilhas Lofoten são um lugar incrível e inspirador, e a majestade da Noruega é inegável em nossa versão do jogo”, disse Darby McDevitt, diretor narrativo de AC Valhalha. “Visitamos as Ilhas Lofoten durante uma semana no final de 2018 e passamos muito tempo caminhando, navegando e explorando. Em nossa última noite, passamos um dia inteiro no museu viking Lofotr e fizemos parte de um banquete (…), no qual encarnamos membros dos clãs nórdicos que se reuniam para um conselho viking”.

E, se você perguntar aos noruegueses locais, eles ficaram muito felizes com a visita. “Foi um prazer ter a Ubisoft e sua equipe aqui. O que nos impressionou foi como eles eram bem educados na área e na história viking”, disse Hege Anita Eilertsen, chefe de marketing do museu Lofotr.

Referências

Dicionário da mitologia grega e romana (2010), de Pierre Grimal.

Dicionário de mitologia nórdica (2015), de Johnni Langer.

O livro da mitologia (1867), de Thomas Bullfinch.

“The Aurora Borealis and the Vikings”, em The Viking Answer Lady.

“Mythology of the Northern Lights”, em Aurora Zone. Disponível em: https://www.theaurorazone.com/about-the-aurora/aurora-legends.

Three Norwegians set out to create world’s most beautiful gaming experience. (Games Press, 23/11/2020).

Para saber mais sobre AC Valhalha, clique aqui.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. A aurora boreal na mitologia e em AC Valhalla, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/aurora-boreal-da-mitologia-a-assassins-creed-valhalla/. Acesso em: 30/03/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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