Não é uma surpresa para nós que Loki seja sempre representado nas artes como um vilão, trapaceiro, mesquinho e cruel. Isso tudo tem base nas inúmeras histórias do deus, que nos mostram que, sim, ele foi tudo isso e mais um pouco. Loki está presente em quase todos os mitos nórdicos, e, por mais que as suas artimanhas trouxessem prejuízos aos deuses e aos nove reinos a um curto prazo, ele os livrava com a mesma velocidade, trazendo benefícios e mais benefícios, como, por exemplo, a criação do Mjölnir, a construção dos muros de Asgard, entre outras coisas. Ele é pai de Fenrir, Jörmungandr e Hela.
O deus da mentira, o deus da trapaça
Loki é a representação do caos necessário, é aquele que deixa o mundo mais interessante, porém menos seguro. Assim sendo, é bem plausível que ele ganhe a imagem de vilão nas cultura pop, não? São tantas histórias e fatos assustadores, que ele acaba se tornando o vilão perfeito. Embora, muitas vezes, seja retratado de forma equivocada, com uma pegada mais cômica ao invés de sóbria e horripilante.
Uma das principais representações desse ser mitológico nas mídias é o Loki da Marvel, que se popularizou até mais do que o próprio deus das lendas. Trazendo uma pegada mais sarcástica, brincalhona, além de outras coisas que iremos tratar neste texto.
Temos também Atreus, em God of War, como Loki, além de outra versão com uma pegada mais vingativa em Assassin’s Creed Valhalla. No jogo, Eivor assume o papel de Havi (um dos nomes de Odin). Depois de um combate com Fenrir, o filho de Loki, Eivor tenta de tudo para impedir o Ragnarök – assim como a versão de Odin em God of War. Agora já sabemos um pouco como ele é na sua verdadeira essência.
E nas outras versões? Que outras facetas esse “vilão” nos apresenta?
Sabemos também do apelo da mitologia nórdica na cultura pop. Abaixo, vamos citar as três versões do Loki mais conhecidas até agora:
1) O Loki da Marvel,
2) A versão de God of War (Atreus), e
3) O Loki de Assassin’s Creed Valhalla.
Futuramente, caso haja interesse dos leitores, posso voltar a trazer outros temas sobre Loki e suas histórias de forma mais detalhada. Trazendo curiosidades, indicações de livros, entre outras coisas. Mas, para isso, preciso da resposta e da interação de cada um de vocês nos comentários, para que eu possa ter um contato mais próximo, fazendo o possível para atender os seus interesses.
Loki no Universo Marvel
Essa, sem dúvida, é a versão mais conhecida. Muitas vezes vista como a original. Muitas vezes vista como a versão verdadeira do deus.
No Universo Marvel, Loki é um vilão implacável. Visto como um grande feiticeiro, Loki entra na trama como o arqui-inimigo de Thor. Sempre tentando matar o deus para conquistar o trono de Asgard. Nessa versão, Loki tem como pai o gigante Laufey, e como mãe a giganta Fárbauti. Isto é algo totalmente oposto à versão original do deus, cuja mãe chama-se Laufey e o seu pai, Fárbauti.
Na Marvel, Loki é apresentado como o filho adotivo de Odin, irmão de Thor. Na mitologia nórdica, na verdade, ele é irmão por jura de sangue de Odin e, dessa forma, acaba sendo uma espécie de tio de Thor.
Quadrinhos – Loki em “O Poderoso Thor”
Já nos quadrinhos, o “Loki clássico” é, sem dúvida, o mais assustador e maligno de todos as versões existentes. Cruel, sanguinário, perigoso e trapaceiro. Até mesmo, pior que o Loki da mitologia (quando falamos de nível de maldade).
Loki cresceu no meio das desconfianças em relação a ele por ser um gigante. Viu de perto o favoritismo dos deuses em relação a Thor. Assim, se desenvolveu como o vilão mais insano de todos, sendo o responsável pela criação dos Vingadores e até mesmo de suas outras versões.
O deus da trapaça no cinema
O Loki dos filmes da Marvel não tem aquele peso de arqui-inimigo, assim como vemos nas HQs. Nos filmes, ele aparece mais como um anti-herói. Tentando, de uma forma ou de outra, chamar a atenção de seu pai, enquanto tenta sacanear Thor de qualquer jeito. Usa suas trapaças e artimanhas para enganar e prejudicar o deus do Trovão.
Com a chegada de sua série, Loki foge de sua linha temporal e, por conseqüência disso, é capturado pela TVA. E, por ser responsável pela criação de suas variáveis, desencadeia a criação do multiverso, onde ele aparece de diversas formas: Lady Loki, Kid Loki, o rei Loki, o Deus do Trovão, além de um jacaré…
As versões da TV
Na série Loki, o deus se mostra diferente da figura que estamos acostumados a ver. Nessa versão, ele está mais como um herói, que um vilão em si. Na procura de sua redenção, parte na jornada mais louca de sua história para descobrir que, na verdade, não era ele o verdadeiro vilão, mas sim outro personagem… (sem spoilers! rs)
A série é um sucesso e não temos como negar isso. Veio com a intenção de desenvolver cada vez mais esse personagem traiçoeiro, mas muito amado pelo grande público. Podemos dizer que Loki parte na jornada do herói e, por conseqüência disso, se desenvolve como personagem, se mostrando responsável e consciente de seus atos.
Foi confirmada uma segunda temporada, e, já que o final da primeira ficou em aberto, podemos teorizar se virá uma guerra multiversal por aí, pirando as nossas cabeças cada vez mais.
Assassin’s Creed Valhalla
O Loki de Assassin’s Creed Valhalla não é muito diferente do original. Na verdade, ele é bem parecido. O jogo recupera todas as cenas contidas nos mitos nórdicos, desde a presença do mestre construtor, até o relacionamento de Loki com Angrboda, e a geração de Fenrir.
Asgard: A morada dos deuses
Loki vive em Asgard com Havi e os outros deuses nórdicos. Nessa narrativa, Havi seria um nome alternativo de Odin, que seria encarnado na(o) própria(o) Eivor, protagonista da história. Diferente da mitologia, Loki aparece poucas vezes como o segundo maior inimigo de Asgard, depois de seu filho Fenrir.
A história sofreu alterações em relação à mitologia e, por isso, mesmo que tenha a presença do mestre construtor, a mesma coisa não ocorre com o seu cavalo. O animal seria pai de Sleipnir, e a mãe seria o próprio Loki (sim, isso mesmo). Por isso, o deus não dá à luz o Corcel de Odin.
O lobo Fenrir
A única presença de uma das proles de Loki é o lobo Fenrir, achado por Havi, ainda filhote, escondido dentro de um lugar sagrado em Asgard. Assim que Havi o descobre, ele o ameaça ali mesmo com uma flecha. Mas é interrompido por Tyr, que para sua flecha quando ela ainda estava suspensa no ar, dizendo que ele não poderia matar o lobo naquele local, uma vez que este era sagrado.
Até então, Havi não sabia quem era o lobo, ou muito menos quem o levou até ali. A única coisa que ele sabia é que seria morto por um no Ragnarök (o que despertou certo pânico assim que avistou o filhote). Havi manda Tyr tirá-lo de sua frente. E o próximo encontro que ele teria com o animal seria marcado por um combate corpo a corpo, em que o lobo Fenrir já está maior. A batalha deles é intensa e no momento em que Havi iria desferir o golpe final da criatura, Loki aparece intercedendo por ela, alegando que é o seu filho. Havi não aceita aquela afronta e, muito menos, vinda de Loki. A partir dali, então, ele começa a armar o fim do Pai de Todos e dos deuses de Asgard.
Loki, junto a sua esposa Angrboda, tenta prejudicar Havi de toda forma possível, traindo, até mesmo, o rei dos deuses, chegando ao ponto de entregá-lo ao rei dos gigantes. Assim, cria um confronto desnecessário, já que poderia ser evitado se Loki não o tivesse armado (embora tenha sido muito legal). Logo depois, chega até a enfrentá-lo numa luta sem igual.
Loki perde a batalha de forma humilhante, então não aparece mais no game.
God of War
Essa é a versão que mais surpreende, sem sombra de dúvidas, uma vez que a revelação de que Atreus é Loki pegou todos de surpresa. Tivemos essa revelação nos minutos finais do game, em que Atreus vê no mural dos gigantes que eles o chamavam de Loki, mostrando, assim, a sua verdadeira natureza. Com essa revelação, muitos fãs ficam enlouquecidos, eufóricos com a ideia de o “garoto” ser o próprio Deus da Trapaça. Sendo filho de Kratos e Laufey mas, dessa vez, não de Fárbauti.
Atreus recebeu esse nome em homenagem a um guerreiro espartano, que foi de grande consideração para Kratos. Já para Fey, que depois descobrimos que se chamava Laufey, Atreus se chamaria Loki, como foi combinado com o seu povo, os gigantes.
Por fim, o até então menino Atreus camufla o seu verdadeiro nome. De maneira indireta, a desenvolvedora Santa Mônica Studios nos deu, desde o início, pistas de que Atreus seria o deus. Numa versão adaptada, mas com a pegada surpreendente de God of War.
O garoto-deus
Nessa versão, Loki é uma criança com onze anos de idade, que vive no mundo dos deuses nórdicos. Criado por seus pais, Atreus se prepara para ser um grande guerreiro, capaz de viver em um mundo de deuses e monstros. Com a morte de Fey, Atreus e Kratos partem em uma jornada emocionante, em que visitam três dos nove reinos mitológicos. Seu objetivo é atender o pedido de Fey: lançar suas cinzas do pico mais alto de todos os reinos.
Mais uma vez, podemos enxergar aqui a Jornada do Herói. Atreus, desse modo, se desenvolve bastante. Podemos ver isso tudo durante o desenrolar da história.
O clímax da história se dá no momento em que ele descobre ser um Deus e passa a agir com arrogância e soberba, além de se mostrar frio e cruel. Depois de sua fase de rebeldia, é possível ver que Atreus melhora como pessoa, resgatando aquele menino que foi outrora.
Atreus, em sua batalha contra Baldur (filho de Freya) ao lado de Kratos, é responsável pela quebra do feitiço de imortalidade e invulnerabilidade que Freya lançara. Isso se dá no momento em que Baldur soca o peito de Atreus, mas acerta o dardo de visco – a única coisa capaz de cortar o feitiço. Assim, Atreus é responsável pela morte de Baldur e traz o Ragnarök, como aconteceu na versão original, nos mitos.
Herói ou vilão?
O que eu quero que vocês entendam com isso é que Loki, por mais que seja visto como vilão, é fonte de muitas inspirações, que conduzem o mundo nerd. Como um vilão – no caso do Loki dos quadrinhos e de Assassin’s Creed Valhalla – ou até mesmo bonzinho – como é o caso de Atreus de God of War – esse personagem complexo abre uma janela de possibilidades para se trabalhar.
Ele é o ingrediente perfeito para ser um grande vilão de uma filmes, séries, jogos, livros ou quadrinhos, além de poder ser descrito como um injustiçado pelos seus atos (O Evangelho de Loki, de Joanne M. Harris, nos mostra isso. Fica a dica!).
Loki, sem dúvida, é o meu personagem favorito da mitologia nórdica. E o seu? Deixe aí nos comentários, junto com sugestões de textos sobre mitologia nórdica que vocês gostariam de ver por aqui.
Obrigado!
Indicações de leitura
Dicionário de mitologia nórdica (2015), de Johnni Langer.
Edda em Prosa.
God of War (2018), de J. M. Barlog.
Mitologia nórdica (2017), de Neil Gaiman.
O Evangelho de Loki (2016), de Joanne M. Harris.
Saiba mais
Os gigantes na mitologia nórdica!
Mais de João Gabriel Amaro.