A caça aos animais lendários em AC Odyssey

O Leão de Nemeia. Imagem capturada pelo autor durante o jogo. Data: 13/04/2020.

Uma das missões mais desafiadoras e divertidas de Assassin’s Creed Odyssey, sem dúvida, é a caça aos animais lendários. É a sacerdotisa do templo de Ártemis quem designa essa missão secundária, com o propósito de provar à deusa da caça que o jogador é digno. Conforme vimos no texto “entre o mito e a história“, a missão repete alguns dos 12 Trabalhos de Hércules. Mais especificamente, quatro: o leão de Nemeia (ou Némea), o javali de Erimanto, a corça de Cerineia e o touro de Creta.

Os 12 trabalhos de Hércules

As façanhas de Hércules, sob as ordens de Euristeu, ficaram conhecidas como Os 12 Trabalhos. Na mitologia grega, há diversas explicações para o herói ter-se submetido a alguém como seu primo, já que ele era um homem desprezível. De acordo com Eurípides, Hércules desejava regressar a Argos e Euristeu concordou, mas desde que fizesse alguns serviços antes de partir. Os principais envolviam libertar o mundo de monstros, o que faria através da caça a animais lendários. As façanhas também foram interpretadas como expiação do assassinato (involuntário) dos seus filhos com Mégara.

As muitas versões da lenda vêm da reflexão do pensamento grego. Podem, sim, ter relação com a necessidade de justificar moralmente os sofrimentos de um herói justo por excelência. No pensamento místico, os trabalhos de Hércules representam (e antecipam) as “provações da alma”, isto é, a libertação do corpo e das paixões até a apoteose. Esta, entre os gregos e romanos, era a cerimônia de divinização.

Os trabalhos de AC Odyssey: a grande caça

As missões em AC Odyssey têm objetivos maiores do que agradar à sacerdotisa e à deusa: ganhar experiência (XP), dinheiro e equipamentos valiosos. Alguns dos animais lendários podem ser os chefes mais difíceis do jogo, mas a caça dá muitos pontos de XP e garante ótimas recompensas. Embora existam 8 animais lendários, focaremos nos 4 que Hércules também enfrentou na mitologia.

O leão de Nemeia

Filho de Ortro e Equidna, o leão de Nemeia é um animal lendário invencível. Foi Hera a deusa quem o criou e colocou em Nemeia, região que o monstro destruiu, pois devorava tanto os rebanhos quanto os habitantes locais. A caça ao leão foi o primeiro trabalho de Hércules. Para vencê-lo, o herói teve que asfixiá-lo com os braços — usando uma técnica que ficaria conhecida como “mata-leão”. Em seguida, esfolou o animal e vestiu seu couro que, por ser indestrutível, era muito útil e servia de proteção contra flechadas.

O javali de Erimanto

O terceiro trabalho foi trazer vivo um javali enorme que habitava a região montanhosa de Erimanto. Com seus gritos, Hércules forçou o javali de Erimanto a abandonar seu chiqueiro, empurrou-o pela neve grossa e o venceu pelo cansaço, de modo que pode agarra-lo. Em AC Odyssey, o javali é um chefe lendário realmente difícil, independente do nível do jogador. Ele vive em um charco e libera gases venenosos.

A corça de Cerineia

O quarto trabalho foi a captura da corça de Cerineia. O poeta grego Eurípedes fez referência ao animal, mencionando seu porte gigantesco e seu poder de devastar as colheitas. De acordo com outro poeta, Calímaco, a corça era uma das cinco de sua espécie. Os animais, encontrados por Ártemis no topo do monte Liceu, tinham chifres dourados e eram maiores que os touros.

Ártemis amarrou quatro corças à sua quadriga (carro de duas rodas puxado por quatro cavalos). A quinta acabou no monte Cerínio por ordem de Hera, tornando-se assim uma das provas de Hércules. Consagrada à deusa da caça, ela era muito veloz. O herói persegui-a por um ano até capturá-la.

O touro de Creta

O touro de Creta (não confundir com o Minotauro) foi o animal que raptou Europa — segundo uma variante, ele era o próprio Zeus em forma de touro. Era um animal miraculoso, pois saiu do mar no dia em que o rei Minos prometera a Poseidon sacrificar-lhe o que aparecesse na água. Mas o rei, vendo a beleza do touro, decidiu trapacear: misturou-o com seus rebanhos e sacrificou ao deus outro animal, de menor valor. O deus então se vingou, fazendo o touro virar um bicho furioso que ele soltava fogo pelas narinas. Foi Euristeu quem mandou Hércules trazer o animal vivo.

Extra: o lobo de Licaonte

Menção honrosa para o lobo de Licaonte, já que também era um monstro mítico. O lobo não tem relação com os 12 Trabalhos de Hércules, mas é um dos animais lendários no game. O termo “Licaonte” vem de Licáon, herói da Arcádia. Rei piedoso, na opinião de alguns, ele recebia com frequência a visita dos deuses. Mas seus filhos queriam saber se os estrangeiros eram mesmo deuses. Então, mataram uma criança e misturaram a sua carne com a da vítima cozida para o banquete. Horrorizados, os deuses lançaram uma tempestade que fulminou a todos. De acordo com outras lendas, Licáon virou lobo. Seu nome deu origem à palavra licantropo, que significa “homem lobo”.

Referências

Dicionário de mitologia grega e romana (2011), de Pierre Grimal.

Saiba mais

Os 12 Trabalhos de Hércules, em: https://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0035 (Portal Graecia Antiqua).

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. A caça aos animais lendários em AC Odyssey, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/a-caca-aos-animais-lendarios-em-ac-odyssey/. Acesso em: 30/10/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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