Mitologia Indígena

A mitologia indígena é uma rica fonte de histórias, lendas e mitos que ajudam a explicar as origens do mundo e da humanidade, bem como a preservar a cultura e tradições dos povos indígenas. Essas histórias são transmitidas de geração em geração e têm um papel fundamental na transmissão de valores e ensinamentos importantes para a vida. Através da compreensão e valorização da mitologia indígena, podemos aprender mais sobre as culturas e tradições dos povos indígenas e, assim, construir um mundo mais justo e inclusivo. Vamos conhecer as tradições dos povos originários americanos, australianos e de outras partes do mundo, e suas representações nas artes!

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A cosmovisão dos povos originários

A mitologia indígena é tão diversa quanto os povos originários que habitam todos os cantos do mundo, e traz uma vasta gama de histórias, lendas e mitos de criação. Estes contam não só as origens do mundo, como também dos seres humanos e demais formas de vida. Têm, portanto, um papel importante na preservação da cultura e tradições dos povos indígenas, que passam seus ensinamentos de geração em geração. Nas culturas indígenas, os mitos e lendas entrelaçam os mundos natural e espiritual, muitas vezes atribuindo qualidades divinas aos animais, ao céu e à terra.

Os começos

Histórias fascinantes, os mitos de criação contam como surgiram as coisas. Assim sendo, vários deles envolvem um grande espírito criador do mundo e tudo o que há nele. Em geral, a maior parte dos povos americanos crê numa divindade criadora. Vários de seus mitos centrais detalham como o céu, a terra e a vida no planeta foram criados. Para os incas, era Viracocha, criador do cosmos. Kóoch, o pai do céu dos tehuelche (patagônios), tinha papel semelhante. Os astecas acreditavam que o universo era obra do deus dual Ometeotl, macho-fêmea. Outra figura importante era Pachamama (“Mãe Terra”), deidade suprema dos povos andinos, presente em mitos indígenas americanos.

A criação do mundo é um tema importante nos mitos da Oceania. Entre os aborígenes, esse evento ocorreu durante o “Dreamtime”, período em que espíritos e seres sobrenaturais vagaram pelo mundo, formando a paisagem. Os mitos de criação também exploram o nascimento da humanidade. Na tradição maori, Tane – o deus da floresta que surge em muitas culturas da Polinésia – fez a humanidade soprando a vida na areia e na lama. De acordo com outra história, a ancestralidade desse povo remonta à canoa que trouxe seus primeiros ancestrais para a Nova Zelândia. Nos mitos da ilha de Páscoa, o deus Makemake criou a vida ejaculando no barro, enquanto nos mitos papuas os humanos eram originalmente peixes disformes que foram moldados em gente por divindades ancestrais. Enfim, tais histórias explicam as origens do mundo, da humanidade e de todas as coisas.

O mundo natural e o cosmos

A mitologia das Américas deriva da cosmovisão de seus povos. Assim sendo, mostra os elos existentes entre a humanidade, o mundo natural e o cosmos. Não por acaso, os mitos americanos muitas vezes incluem corpos celestes. Na mitologia guarani-kaiowá, por exemplo, o sol e a lua são os gêmeos Kuarahy e Jasy, que têm poderes especiais. Outro tema comum é a rivalidade entre o sol e a lua, presente em vários mitos astecas, incas e tehuelche. Para os primeiros, a existência se baseava em um ciclo de cinco sóis e eras, todos terminando em destruição, e sacrifícios humanos evitavam a queda do quinto e último sol – e o fim do mundo.

Para os kaiowás, Tupã é a entidade relacionada ao trovão e ao raio. Não é o deus criador, e sim uma entidade, ou uma designação para várias entidades. Para os indígenas, antes da catequese dos jesuítas, Tupã representava “um ato divino, era o sopro, a vida; e o homem, a flauta em pé, que ganha vida com o fluxo que por ele passa”.

Os contadores de histórias

Em geral, os povos indígenas americanos não usavam linguagens escritas até seus primeiros contato com os colonizadores europeus.  Igualmente, os mitos da Oceania se fundamentam nas antigas tradições orais. Os sacerdotes funcionavam como repositório e agentes de sua preservação, por meio da memória. Assim, transmitiam as histórias sagradas de geração em geração. Elas carregavam lições e valores importantes; diziam também o que era tabu nas sociedades nativas. Lembrar-se delas era fundamental, porque muitas estabeleciam a genealogia de uma família ou clã.

Todos os ramos da mitologia indígena foram, em algum momento, preservados pela tradição oral, mas alguns povos mesoamericanos, como os maias e os astecas, desenvolveram sistemas de hieróglifos que lhes permitiram registrar seus mitos em coleções. Outros povos usavam sistemas diferentes para documentar seus contos. Os incas, por exemplo, usaram as cordas nodosas. Os contos da Oceania começaram a ser transcritos pelos antropólogos europeus durante o século XIX, mas eram originalmente recitados para um públicos de ouvintes, aprendidos e recitados como um dever cerimonial sagrado.

Lendas

A mitologia indígena também inclui histórias de heróis, monstros e seres fantásticos. No folclore aborígene australiano, por exemplo, há o monstro Luma-Luma, gigante que legou à humanidade rituais vitais. O mais importante personagem das suas histórias, no entanto, é a Serpente do Arco-Íris (Almudj ou Ngalyod), sempre ligada a rios, riachos ou cursos d’água. É uma força criadora, mas também temida e não gosta de ser incomodada. Entre os indígenas da América do Norte, havia monstros devoradores de homens como o Pia Mupits e Wendigo.

O herói que ajudou ou ensinou a humanidade era um tema recorrente nos mitos americanos. O povo warao da América do Sul cultuava uma figura chamada Haburi, que inventou a canoa feita de tronco de árvore escavado. Por sua vez, os “heróis gêmeos” maias ajudaram os humanos ao derrotarem os senhores do Submundo, poupando os humanos do sacrifício. Eles compartilham características com entidades trapaceiras, também presentes nos mitos da América do Norte, como é o caso do coelho ou os contos dos povos das primeiras nações indígenas. Histórias como essas são transmitidas de geração em geração e têm um papel fundamental na transmissão de valores e ensinamentos importantes para a vida.

Referências

O livro da mitologia (2018), por Philip Wilkinson e outros.

Deuses do México indígena (2002), de Eduardo Natalino dos Santos.

O livro ilustrado dos mitos (1997), de Neil Philip.