Mitologia Egípcia

A mitologia egípcia é uma verdadeira fonte de maravilhas. Seu panteão representava a crença em uma miríade de deuses, que eram a origem da prosperidade e tinham poder absoluto sobre todas as coisas no universo. A eles, os antigos egípcios erigiam monumentos grandiosos e prestavam homenagem nos templos. O próprio faraó era uma figura divina, isto é, uma representação dos deuses na terra. Os mitos estavam intrinsecamente ligados à religião e às práticas cotidianas desse povo, tornando-se parte indispensável da vida no Egito antigo. A mitologia egípcia permaneceu coesa ao longo dos tempos, sem sofrer muitas mudanças. Seu legado inclui histórias fantásticas, personagens magníficas e um repertório incrivelmente rico de imagens e símbolos, que ainda cativam o imaginário no mundo contemporâneo. Vamos descobrir como esse legado inspira as artes e a cultura pop!

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A mitologia egípcia em 5 games

Podemos aprender muito sobre mitologia egípcia com os games. Conheça 5 títulos que incluem deuses, monstros e lendas desse rico universo!

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Como era a mitologia egípcia?

A mitologia egípcia é uma das categorias da mitologia africana. É o conjunto de mitos e lendas que deram forma ao imaginário religioso do Egito antigo até a chegada do cristianismo. Os egípcios eram os mais religiosos dos povos. De acordo com o historiador grego Heródoto, eles acreditavam que todas as coisas no universo vinham dos deuses, e que estes eram a fonte de prosperidade. A religião do Egito antigo baseava-se no politeísmo, ou seja, na crença em vários deuses, muitos dos quais tinham forma humana e face de animal sagrado. Os cultos aos deuses do Egito ocorriam nos templos a eles dedicados, pelas mãos dos sacerdotes.

A mitologia egípcia através dos tempos

Numa classificação ampla, o Egito antigo se desenvolveu ao longo de três períodos principais: o Antigo Império (2686–2181 a.C.), o Médio Império (2055–1650 a.C.) e o Novo Império (1550–1069 a.C.). Entretanto, as raízes dessa civilização remontam à época da primeira e segunda dinastias (período arcaico), que tiveram início em 3100 a.C. A história do Egito antigo se prolonga, posteriormente, do período de dominação romana à Era Cristã.

Uma história tão ampla, com eras tão distintas de acordo com o desenvolvimento cultural, poderia indicar mudanças na mitologia egípcia através dos tempos. Contudo, há uma notável coerência ao longo de toda a história do Egito antigo. Isso ocorre, em parte, porque a mitologia egípcia era muito flexível, capaz de absorver ambiguidades e visíveis contradições.

Quais eram as principais características da religião no Egito antigo?

De acordo com Pierre Montet, os antigos egípcios eram muito mais exigentes com os deuses e com os mortos do que consigo mesmos. A princípio, aspectos da mitologia egípcia se aplicavam apenas aos reis. Na época do Antigo Império, por exemplo, apenas os reis podiam assegurar, para si e para os outros, uma nova existência após a morte.

Durante o Médio Império, pessoas que não faziam parte da realeza começaram a adotar ritos funerários à semelhança do rei. Ao longo de 3 mil anos, portanto, tais aspectos da mitologia egípcia se estenderam à população. Até que todos puderam sonhar com uma nova vida após a morte no Campo de Juncos, ou Ialu (o paraíso). Esse mundo de beleza superior no delta do Nilo, visão utópica e idealizada do Egito Antigo, localizava-se no leste, onde o sol nasce.

O mito de criação egípcio

No início não havia nada, exceto o oceano primordial que se chamava Nun (“não ser”). Áton (“o todo”) surgiu do caos de Nun, cujas águas ele habitara, então criou outros deuses a partir do seu próprio corpo. Depois, fez as águas originais recuarem; assim, teve uma ilha onde ficar. Descansando sobre esse pequeno morro, Áton criou o mundo. Esse é o mito de criação egípcio, história das origens de tudo conforme narram as imagens e hieróglifos nas paredes dos templos e túmulos.

As cheias do Nilo tiveram grande influência sobre o mito de criação egípcio. Esse era um fenômeno anual, e dele dependia a rica civilização que se formou em torno do rio. A inundação depositava sedimentos férteis nas suas margens, dando aos antigos habitantes meios de cultivo em larga escala. Assim, o Egito antigo floresceu. A cheia regeneradora do Nilo era louvada como obra de Hâpi, deus masculino e feminino da fertilidade.

O evento anual inspirou o conceito de Nun, o oceano primordial que cobriu o mundo no início dos tempos, de acordo com a mitologia egípcia. Assim sendo, não é coincidência que Atón-Rá (Deus Sol e criador) nasceu simbolicamente desse oceano. Além disso, os campos do delta do Nilo ressurgiam a cada outono, quando as águas da cheia baixavam.

Quais são os deuses do Egito?

Os primeiros filhos de Áton, Shu (o ar seco da tranquilidade e da preservação) e Tefnut (o ar úmido da mudança), criaram Geb (a terra seca masculina) e Nut (o céu úmido feminino). Céu e Terra e seus cinco filhos, juntos de Shu e Tefnut, eram os 9 deuses do Egito mais importantes sob Áton. Assim como ele, detinham as forças da ordem e do caos.

Os antigos textos falam de dezenas de milhares de deuses, que podiam se dividir em dois ou juntar-se com outros, conforme necessário. Mas, desse vasto panteão, os principais deuses do Egito eram 25: Geb, Nut, Shu, Tefnut, Amon, Rá, Anúbis, Bastet, Bes, Hâpi, Hator, Hórus, Ísis, Khepri, Khnum, Khonshu, Maat, Mont, Mut, Néftis, Osíris, Ptah, Seth, Sobek e Toth.

Os principais deuses do Egito: alguns exemplos

Associado a Áton, ganhou respeito acima dos outros deuses do Egito como criador de todas as coisas. Seu centro de adoração era a cidade de Heliópolis (hoje parte do Cairo), uma das cidades mais antigas do Egito. Dizia-se que Rá cruzava o céu todos os dias numa barca, trazendo o sol à terra. Por volta da quinta dinastia (c. 2500 a.C.), os faraós do Egito se identificaram com esse deus e ergueram templos para ele.

Hórus, o deus do céu, era descrito com uma cabeça de falcão. Isso porque muito egípcios acreditavam que o céu era uma enorme ave desse tipo, cujos olhos eram o céu e a lua. Aliás, a origem dos principais deuses do Egito – com forma humana e face de animal – está nos bichos sagrados que eram, primordialmente, objeto de adoração dos egípcios.

Filho de Geb e Nut, Osíris governou a princípio como rei dos mortais. Foi ele quem ensinou os egípcios a sobreviver, a fabricar e usar ferramentas, e a cultivar e colher trigo e cevada. Sua irmã e esposa, a deusa Ísis, ensinou as mulheres a fiar, a tecer, a fazer pão e cerveja dos grãos. Ísis era adorada em todo o Egito antigo como a deusa das mães, da fertilidade, da magia, da cura e dos ritos fúnebres. Posteriormente, seu culto se espalhou pela Grécia e pelo Império Romano.

O Livro dos Mortos e outros textos

Os templos eram grandes livros de pedra, cujas superfícies inteiras eram cobertas com pinturas e baixos-relevos. As orações e os encantamentos apareceram pela primeira vez nas pirâmides dos faraós do Antigo Império (os Textos das Pirâmides). Elas seriam adaptadas no Médio Império, para uso particular (os Textos dos Sarcófagos).

A maior parte do que sabemos da mitologia egípcia se construiu a partir de trechos dos encantamentos, mas alguns deles foram registrados como narrativas. As contendas entre Hórus e Set, por exemplo, é um conto violento e cômico sobre a rivalidade entre dois deuses.

Posteriormente, nos tempos do Novo Império, os encantamentos foram codificados no texto mais famoso da religião e da mitologia egípcia, o Livro dos Mortos. “Livro” é o termo que mais se aproxima do que seria uma coleção de textos funerários. Esses textos incluem encantamentos com o propósito de ajudar o morto em sua jornada pelo submundo.

O legado da mitologia egípcia

No antigo Egito, a mitologia era parte integrante da religião e das práticas cotidianas; era, portanto, manifestação essencial da experiência humana. No mudo contemporâneo, é fonte inesgotável de inspiração para a cultura pop, com suas histórias fantásticas e personagens magníficas. Desde a década de 1930, por exemplo, os filmes de aventura têm explorado os mistérios dos tesouros dos faraós, das maldições dos mortos e das conspirações palacianas. A influência do misticismo e da grandiosidade da antiga civilização também pode ser vista em jogos de videogame, séries de TV, livros e quadrinhos, em que figuras como o deus sol Rá, a deusa gata Bastet e o misterioso Anúbis são recorrentes. E a moda também não fica de fora: estampas de hieróglifos, motivos de escaravelhos e deuses egípcios adornam roupas, acessórios e tatuagens.

Dos filmes de Hollywood, com suas múmias e rainhas do Nilo, ao movimento afrofuturista, as imagens e o simbolismo da mitologia egípcia sempre inspiraram as artes e a cultura pop. Na obra de H. P. Lovecraft, Agatha Christie e outros escritores, o Egito antigo é lugar de mistérios ancestrais. Nos quadrinhos da Marvel há diversos personagens egípcios; por exemplo, o Apocalypse (vilão dos X-Men), o Cavaleiro da Lua e o deus Seth em pessoa. Outras divindades aparecem à vezes, com destaque para Bastet, a deusa egípcia que deu ao Pantera Negra sua força e seus poderes. Nos games não é diferente. Em Age of Mythology (2002), o jogador podia criar um pequeno exército de seres mitológicos. Mais recentemente, o game Origins (2017) da franquia Assassin’s Creed trouxe inúmeras referências à mitologia egípcia. Descubra tantas outras no Projeto Ítaca!

Referências

O livro da mitologia (2018), por Philip Wilkinson e outros.

The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses (2005), por George Hart.

O livro ilustrado dos mitos (1997), de Neil Philip.