Os deuses da Enéade em Cavaleiro da Lua

“Eu sirvo Khonshu. Eu sou o avatar dele”, diz Marc Spector. Deixado à beira da morte no deserto, onde ressuscita pelas mãos do deus da lua Konshu, o mercenário se torna o herói Cavaleiro da Lua. Posteriormente, Spector cria um alter ego: o explorador Steven Grant, que trabalha na National Art Gallery em Londres. Essa é a premissa da série Cavaleiro da Lua, da Marvel, que segue os passos de Grant em busca da sua própria identidade. A série é um prato cheio para quem se interessa pela mitologia egípcia, já que faz dezenas de referências a ela. Logo no episódio 1 (“The Goldfish Problem“), Grant cita um “supergrupo de deuses do Egito”. Ele reitera, ainda, que esse é um grupo de 9 deuses, nem mais, nem menos. Descubra quem são os deuses da Enéade e sua importância na mitologia.

O que é a Enéade?

Na mitologia egípcia, a Enéade é o grupo de nove deuses que incluía o Deus-Sol e seus filhos. A palavra vem do termo grego para “nove”, ao passo que os antigos egípcios o chamavam de “Pesdjet”. O oceano primordial (Nun) não fazia parte da Enéade, de tal forma que o grupo incluía os seguintes deuses:

Vamos conhecer cada um deles.

Áton

Deus-Sol e criador do universo. O nome Áton porta a ideia de “totalidade”; nesse sentido, é um estado final e inalterado de perfeição. Eventualmente o chamavam de “Senhor de Heliópolis”, o maior centro de culto ao sol. A presença de outra deidade solar nesse local levou à fusão dos dois deuses em Áton-Rá.

Shu

Deus egípcio da luz do sol e do ar, Shu assumia forma humana com uma pluma (hieróglifo de seu nome) na cabeça e os braços erguidos, nos quais sustentava a deusa do céu Nut e a mantinha separada, assim, de seu consorte, o deus da terra Geb. Shu é a parte masculina do primeiro casal que o Deus-Sol criou.

Tefnut

Por sua vez, Tefnut é a parte feminina do casal. Seu irmão-consorte é o deus do ar Shu, e seus filhos são Geb e Nut. É a deusa primitiva da umidade. Enquanto “Olho de Rá”, os egípcios a representavam com cabeça de leoa. Ela era objeto de culto no delta do Nilo – assim como Shu, que também tomava forma leonina. Havia um santuário para Tefnut em Heliópolis, centro de culto de seu pai Áton-Rá.

Geb

Deus da Terra e senhor do tribunal divino da realeza. Os registros a respeito de Geb abundavam na Era das Pirâmides, quando ele ficou conhecido como “o mais velho [dos filhos] de Shu”. Sua irmã-consorte é a deusa do céu Nut, cuja união com Geb gerou as divindades da lenda de Osíris.

Nut

Deusa egípcia do céu. É uma das personificações dos elementos cósmicos que os sacerdotes de Heliópolis desenvolveram para explicar o universo físico. Nut é filha de Shu, o deus do ar, e Tefnut, a deusa da umidade. Os egípcios viam-na principalmente como forma humana, mas também a representavam como a Vaca do Céu.

Osíris

Deus cujo domínio é Duat, o submundo egípcio. Osíris governou primordialmente como rei dos mortais. Foi ele quem ensinou os mortais a sobreviver, fabricar e usar ferramentas, cultivar e colher trigo e cevada.

Ísis

Deusa de imenso poder, Ísis era objeto de culto em todo o Egito antigo. Era a deusa das mães, da fertilidade, da magia, da cura e dos ritos fúnebres.

Seth

Deus das forças caóticas, que rege tanto a veneração quanto a hostilidade.

Nephthys

Deusa funerária com um papel subordinado no mito Osíris. Ela aparece no Antigo Império (2686–2181 a.C.) ao lado de Ísis como protetora do rei. Era ela quem o escoltava para as sombras do submundo e chorava copiosamente por ele, assim como seu irmão Osíris.

Os diferentes tipos de Enéade

Os nove deuses da Enéade eram cultuados na cidade de Heliópolis. Entretanto, outros centros de culto tinham seus próprios grupos, com suas divindades principais. Havia Enéades “maiores” e “menores”, e o número de deuses nem sempre correspondia a “nove”. Além disso, eles não necessariamente formavam uma árvore genealógica, como era o caso em Heliópolis.

Decerto, havia diferentes grupos de deuses do Egito antigo. Vale citar, por exemplo, uma inscrição no templo de Redesiyeh, talhada nas rochas do deserto oriental durante o reinado de Sety I (Dinastia XIX). Com efeito, o faraó dedicou o templo a uma Enéade que incluía 6 deuses: Amón, Osíris, Hórus, Rá, Ptah e Ísis. Os demais integrantes do grupo, por sua vez, eram estátuas divinizadas do próprio Sety I.

No Egito antigo, os templos eram grandes livros de pedra cujas superfícies inteiras eram cobertas com pinturas e baixos-relevos. Nos “Textos das Pirâmides”, inscritos nos túmulos dos faraós, as duas Enéades trazem em si o conceito da totalidade de deuses do panteão. Os principais deuses tinham papel de juízes na mitologia egípcia, já que valorizavam a verdade.

A Enéade de acordo com a Marvel

Não é novidade que a Marvel adapta os mitos, lendas e deuses à sua própria mitologia ficcional. Faz o mesmo, portanto, com a mitologia egípcia. De acordo com da Marvel, a Enéade é um grupo de deuses egípcios que inclui Anúbis, Bast, Geb, Hathor, Hórus, Ísis, Khonshu, Osíris, Rá, Sekhmet, Shu, Taweret, Tefnut, Nephthys, Nut e Ammit. Há mais de 9 deuses nessa versão.

No episódio 3 da série, Konshu sugere fazer uma reunião com o “supergrupo de deuses”, o que de fato se concretiza dentro da grande pirâmide de Gizé. Lá, Grant encontra o avatar feminino de Hathor, deusa da música e do amor. Depois, chegam os avatares de Hórus, ísis, Tefnut e Osíris, todos disfarçados de humanos, com roupas modernas. No papel de juízes, eles deixam claro que baniram Konshu porque o deus da lua quase os expôs aos mortais, e o ameaçam de aprisionamento na pedra.

Ao longo da história, sabe-se que os deuses egípcios assumiram avatares humanos com o propósito de realizar suas vontades e olhar pelos mortais. Contudo, há um juramento de não-interferência – os deuses da Enéade não devem intervir nos assuntos humanos – que o deus da lua quebra. Khonshu continuou a agir em nosso mundo na forma de Cavaleiro da Lua. Esse foi a razão para seu banimento.

Saiba mais sobre a mitologia egípcia!

Referências

The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses (2005), por George Hart.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Os deuses da Enéade em Cavaleiro da Lua, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/os-deuses-da-eneade-em-cavaleiro-da-lua/. Acesso em: 03/12/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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