O que é o Mundo entre Mundos no universo de Star Wars?

Que Star Wars se inspirou na mitologia, não é novidade. Seus temas, personagens, mundos e enredos devem muito aos mitos e lendas do mundo todo. Nesse sentido, um dos acréscimos mais intrigantes à franquia, nos últimos anos, sem dúvida foi o “Mundo entre Mundos”. Vamos desvendar essa dimensão misteriosa, que desafia a compreensão do tempo e do espaço em uma galáxia muito, muito distante. Vamos descobrir, também, sua relação com os reinos místicos e com as jornadas espirituais da mitologia.

O conceito do Mundo entre Mundos

O Mundo entre Mundos apareceu primeiramente na série de animação Star Wars: Rebels (2014-2018). Trata-se de um plano místico, isto é, um lugar atemporal e interdimensional que existe além do tempo e do espaço. É, também, um elo e um ponto de interseção entre diferentes momentos da história galáctica.

A existência do Mundo entre Mundos na mitologia fantástica de Star Wars é profundamente evocativa de conceitos espirituais. A ideia de uma dimensão transcendental onde o tempo é fluido e os eventos são mutáveis lembra o “mundo dos deuses” da mitologia grega e os reinos espirituais da mitologia africana (no filme Pantera Negra, por exemplo, vemos T’challa acessar um desses reinos). Além disso, tem relação com as jornadas espirituais que marcam diferentes culturas e religiões ao redor do mundo.

No Mundo entre Mundos, infinitos portais conectam eventos passados e futuros: são “janelas” que permitem vislumbrar ou mesmo mudar o curso da história. Por isso, em busca de poderes ilimitados, o maligno Darth Sidious tentou controlá-lo com magia arcana. Afinal, quem o fizesse “teria domínio sobre toda a existência”, posto que o reino místico conecta tempo e espaço; assim, cria um canal entre os vivos e os mortos.

Jornada espiritual: em busca do conhecimento

A “Jornada do Herói”, que Joseph Campbell popularizou em O Herói de Mil Faces (1949), é uma das estruturas narrativas mais célebres. De acordo com ela, o protagonista passa por uma série de estágios que incluem o chamado à aventura, a travessia do limiar, a provação e o retorno. Como vamos descobrir, os reinos místicos se encaixa nessa estrutura.

No Mundo entre Mundos, personagens como Ezra Bridger e Ahsoka Tano experimentam jornadas espirituais profundas. Chamados a ele, cruzam um limiar que transcende as barreiras do tempo e, lá, enfrentam provações que os transformam. Esse processo descreve as jornadas espirituais de diferentes culturas, bem como a busca pelo conhecimento e pela iluminação.

No Mundo entre Mundos, os personagens de Star Wars almejam não apenas alterar o curso da história, mas também uma compreensão mais profunda de si e do universo. Lá, encontram sabedoria e entendimento que transcendem a compreensão comum, o que revela temas fundamentais. Essa busca reflete, por exemplo, a jornada espiritual de diferentes figuras históricas e mitológicas. É o caso de Siddhartha Gautama, o Buda, que atingiu a iluminação debaixo de uma figueira, ou Moisés, que subiu o Monte Sinai atrás de revelações divinas.

A dualidade e o equilíbrio entre opostos

Em Rebels, os planos de Darth Sidious foram de encontro com o heroísmo de Ezra Bridger, que acessou o Mundo entre Mundos antes do vilão. No reino místico, o rapaz finalmente conseguiu salvar Ahsoka Tano do passado e trazê-la de volta. Depois disso, ambos selaram a passagem. Anos mais tarde, a heroína despertou novamente no plano espiritual, onde se deparou com seu mestre Anakin Skywalker. O reencontro, que vemos na série Ahsoka, faz com que a personagem revisite seu passado e os traumas de suas batalhas durante as Guerras Clônicas.

Novamente, a dualidade e o equilíbrio entre opostos ganham importância em Star Wars. Se em muitas culturas há a crença de que forças binárias compõem o universo, em Star Wars esses contrastes se manifestam na luta entre o lado luminoso e o lado sombrio da Força. Nesse sentido, o Mundo entre Mundos traz uma perspectiva única acerca da dualidade. Afinal, esse lugar fora do tempo e do espaço permite revisitar e reescrever o passado; assim como os iniciados, nas jornadas espirituais, têm a chance de escolher um caminho de equilíbrio e integração, transcendendo polaridades aparentes.

A importância dos reinos místicos

O Mundo entre Mundos desafia noções convencionais de tempo e espaço; também permite que personagens revisitem o passado, busquem conhecimento e equilíbrio, e recebam orientação de mentores espirituais. Em última análise, esse reino místico nos faz lembrar que as jornadas espirituais são parte fundamental da experiência humana. Elas nos convidam a explorar o desconhecido, buscar a sabedoria, enfrentar a dualidade e encontrar o equilíbrio interior. Temas como estes fazem de Star Wars uma mitologia fantástica rica e cativante.

Referências

Dicionário de símbolos (2020), de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

Dicionário da mitologia greco-romana (2011), de Pierre Grimal.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. O que é o Mundo entre Mundos no universo de Star Wars?, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/o-que-e-o-mundo-entre-mundos-no-universo-de-star-wars/. Acesso em: 31/10/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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