O Olho de Sion e o retorno de Thrawn em Ahsoka

Dos destroieres estelares às estações espaciais (a Estrela da Morte, por exemplo), os vilões da franquia Star Wars tem predileção por “terrores tecnológicos” gigantescos. Fazendo jus a essa tendência megalomaníaca, a série Ahsoka traz não apenas personagens inéditos, como também um novo e formidável colosso: O Olho de Sion. Vamos descobrir o significado desse projeto e seu principal objetivo, isto é, trazer um grande vilão de seu exílio nos confins mais remotos do universo.

Em busca de Thrawn

Logo que o primeiro episódio começa, Ahsoka nos apresenta a uma tríade de vilões. Os jedi sombrios Baylan Skoll e Shin Hati tomam de assalto um cruzador da Nova República; em seguida, libertam a feiticeira Morgan Elsbeth e se juntam a ela. Posteriormente, no episódio dois, os vilões tomam posse de um mapa da galáxia e descobrem o paradeiro de um mal ainda maior: o Grão Almirante Thrawn. Com o propósito de resgatar esse quarto elemento, Elsbeth coordena a construção de uma nave capaz de viajar para fora da galáxia. Esta é uma premissa inédita no cânone de Star Wars, cujas histórias limitaram-se, até então, à galáxia conhecida (à exceção, claro, do universo expandido).

O que é o Olho de Sion?

O projeto de Elsbeth consiste em uma nave circular gigantesca com o propósito de cruzar as fronteiras da galáxia. Nesse sentido, O Olho de Sion assemelha-se aos “anéis de hiperespaço”, utilizados nas naves que não possuem sistemas nativos para viagens mais rápidas do que a luz. No Episódio II: Ataque dos Clones (2002), por exemplo, vemos Obi-Wan Kenobi acoplar um desses sistemas à sua pequena jedi starfighter. Já o veículo que aparece no episódio dois de Ahsoka, no entanto, é muito maior. Para entrar em funcionamento, ele depende dos poderosos motores de hiper-propulsão dos cruzadores imperiais.

A terra prometida nos confins do universo

Se, em princípio, O Olho de Sion deve seu nome à forma circular da nave, a referência à Sion bíblica não passou despercebida. O termo Sion (Sião, em língua portuguesa) relaciona-se à terra prometida dos cristãos, objetivo de uma busca espiritual. As colinas a sudeste de Jerusalém receberam esse nome que se tornou sinônimo desse lugar imaginário, considerado perfeito ou ideal.

Em Ahsoka, o objetivo dos vilões também ganha nuances de uma busca espiritual. Assim como as feiticeiras e praticantes das antigas religiões pagãs, Elsbeth tem uma relação intrínseca com o santuário onde o mapa galáctico se revela. Ela então fala de um povo antigo de uma galáxia distante, e de um chamado que reverbera através do tempo e do espaço. Baylan se lembra, imediatamente, das fábulas que ouvia durante a infância no Templo Jedi. Nesse sentido, o que existe além da galáxia é tanto um presságio quanto uma promessa para os desejos de poder e dominação dos vilões. Seria, portanto, uma terra prometida; isto é, um lugar mítico no próprio contexto do universo de Star Wars.

O simbolismo do olho

Enquanto órgão da percepção, o olho é também um símbolo cristão do conhecimento divino. Por sua vez, na mitologia grega, os seres de muitos olhos ou mesmo o olho único do Ciclope significam a vigilância voltada para fora. Vale lembrar que no universo de Star Wars também há um personagem de um olho só. Ele é Darth Sion, guerreiro sombrio maligno e deformado, cego do olho direito (daí o seu nome). No entanto, as histórias desse poderoso Sith pertencem ao antigo universo expandido (isto é, às obras que “expandem” o universo para além dos filmes). Hoje elas têm status lendário, em contraste com as produções canônicas. No entanto, alguns desses personagens vêm aos poucos ganhando espaço no cânone. Esse ainda não é o caso de Darth Sion, mas sim de um vilão ainda mais importante.

Quem é Thrawn?

O segundo episódio de Ahsoka trata, sobretudo, do retorno do Grão Almirante Thrawn. Esse personagem emblemático é criação do escritor Timothy Zahn para sua trilogia de livros publicados nos anos 1990. O hábil estrategista militar de pele azul e olhos vermelhos é o principal vilão nessas histórias, que ocorrem depois do Episódio VI: O Retorno de Jedi e, portanto, depois da queda do Império. Das lendas, Thrawn foi trazido para o cânone na série em animação Rebels (2014-18), também como antagonista principal.

Thrawn é o próprio “herdeiro do império”, título do primeiro volume da trilogia de Zahn (ao qual Ahsoka faz alusão na série). Não por acaso, O Olho de Sion também nos remete ao termo “Scion”, que significa “descendente”, isto é, “aquele que tem direitos de herdar uma propriedade”. No fim de Rebels, que ocorre durante a queda do Império, Thrawn some misteriosamente e permanece desaparecido desde então. Agora, com os olhos voltados para fora da galáxia, seus aliados em Ahsoka poderão trazê-lo de volta.

Referências

Dicionário de símbolos (2020), de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

Dicionário da mitologia greco-romana (2011), de Pierre Grimal.

“Ahsoka’s Eye of Sion Explained” (Screen Rant, 28/08/2023), por Molly Brizzel. Em: https://screenrant.com/ahsoka-eye-of-sion-explained/

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. O Olho de Sion e o retorno de Thrawn em Ahsoka, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/o-olho-de-sion-e-o-retorno-de-thrawn-em-ahsoka/. Acesso em: 04/12/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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