Zeus: suas principais versões na cultura pop

Zeus é o mais importante deus da mitologia grega. Ele passa a maior parte do tempo no monte Olimpo, de onde não só governa os fenômenos celestes – a chuva, o raio e os relâmpagos – mas, sobretudo, mantém a ordem e a justiça no mundo. Não surpreendentemente, o maior dos olímpicos ganhou várias versões na cultura pop, seja no cinema, na TV e nos games. De fato, há inúmeros modos de se representar o pai dos deuses, já que os mitos estão abertos a diferentes interpretações.

Para algumas narrativas contemporâneas, a ascensão de Zeus foi estabelecimento do patriarcado, isto é, a imposição de uma sociedade de deuses e homens guerreiros. Com efeito, uma nova ordem masculina substituiria outra, mais antiga. O soberano, nesse sentido, assume o arquétipo do Pai Primitivo – concepção parte luz, parte trevas que rege a cultura ocidental. Sob o mesmo ponto de vista, o próprio Zeus teme perder o trono, e, por consequência, seu status quo divino. No entanto, há também imagens mais simpáticas que o retratam como rei justo e benevolente. Vamos conhecer as suas principais versões na cultura pop, releituras que iluminam as múltiplas facetas do deus dos deuses.

As faces de Zeus na cultura pop

1. Zeus de Fúria de Titãs: rei aristocrático

É o governante supremo do monte Olimpo. Justo, porém impetuoso. O icônico Zeus de Fúria de Titãs (1981), interpretado pelo ator veterano Laurence Olivier, é um exemplo importante. Nesse épico mitológico, o pai dos deuses controla a humanidade como se o mundo fosse um tabuleiro de xadrez. Ele guarda figuras de barro que correspondem aos homens e mulheres na terra, os quais remodela ou destrói quando bem entende. Sua ação reflete diretamente na vida humana. O papel foi reprisado por Liam Neeson no remake de 2010, de forma majestosa (e armadura brilhante).

Similarmente, essa é a representação de Zeus no filme Jasão e o Velo de Ouro (1963), por Niall MacGinnis, e no game Wrath of the Gods (1994). Outro exemplo é o Zeus durão de Percy Jackson e o Ladrão de Raios (2010). Interpretado por Sean Bean, é ele quem põe os outros deuses na linha.

2. Zeus da série Hércules: o mentor

Quando desce à terra, Zeus assume várias formas; uma delas é a do ator Anthony Quinn nos telefilmes que deram origem às séries Hércules e Xena: A Princesa Guerreira. Ele é o mentor de Hércules em sua jornada; sábio, mas distante, é um tipo de Mestre dos Magos que o herói raramente vê – e sua ausência gera ressentimento. Também é neutro nas questões mundanas, mas ama a humanidade. Nesse sentido, de todos os deuses que vemos na franquia, a representação de Zeus talvez seja a mais consistente com a mitologia grega. Em contraste, o papel de mentor era mais associado à deusa Atena.

3. Zeus de Hércules, da Disney: o pai amoroso

O Zeus do filme Hércules (1998), da Disney, é um paizão e um chefe de família amoroso, tanto quanto enérgico. Depois que baniu Hades para o Mundo Inferior, passou a reinar com justiça e sabedoria. No entanto, teme perder o trono no momento em que seu irmão sombrio ataca o Olimpo.

4. Zeus de God of War: o pai mau e impiedoso

Nos games da trilogia God of War (2005 – 2010), Zeus é cruel, violento e implacável, aproximando-se até mesmo do Deus do Velho Testamento. Ele é o vilão da história, e, por fim, revela-se pai do anti-herói Kratos. O rei dos deuses então assume o arquétipo do dark father ou “pai sombrio”, evocando o Darth Vader da saga Star Wars. Essa é a imagem do Pai Primitivo, representante de uma virilidade tirânica, violenta e sem limites, que teme perder o trono. Nesse sentido, sua filha Atena surge como defensora do patriarcado: ao mesmo tempo que é mentora de Kratos, tenta dissuadi-lo da guerra contra o Olimpo.

5. O jovem Zeus

Em God of War II, uma cena de flashback mostra um jovem Zeus saindo da caverna onde cresceu. Seus cabelos prateados e olhos sem pupilas lembram o Magneto de X-Men, o que reforça seu papel de vilão. Também no filme Imortais (2011) vemos um jovem soberano do Olimpo. Dessa vez é Luke Evans quem dá vida a uma versão sarada, lustrosa e quase sem barba do pai dos deuses.

6. (Bônus) Zeus de Thor: o bufão

Em conclusão, vale mencionar o Zeus de Thor: Amor e Trovão (2022), interpretado por Russell Crowe. Essa mais nova versão do pai dos deuses funciona, sobretudo, como alívio cômico. Vemos durante poucos minutos um Zeus bufão, que conta piadas e debocha dos heróis na assembleia dos deuses. Isso se deve à tradição irreverente do MCU, de pouquíssimo compromisso com os personagens mitológicos. Assim, o universo fantástico que junta deuses, alienígenas e super-heróis ganha mais uma divindade, dessa vez grega, para compor um cosmos já habitado por deuses nórdicos e egípcios.

Referências

Dicionário de Mitologia Grega e Romana (2010), de Pierre Grimal.

By the Beard of Zeus! Every Zeus in Film and TV, Ranked by Facial Hair (Paste, 11/07/2022).

Theoi Project (https://www.theoi.com/).

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Zeus: suas principais versões na cultura pop, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/zeus-suas-principais-versoes-na-cultura-pop/. Acesso em: 27/04/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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