Hércules no cinema italiano “peplum”

Hércules no Centro da Terra (1961) é uma das 4 aventuras históricas do box Cinema Épico da Versátil Home Vídeo. O box também traz cerca de uma hora de extras, com destaque para o documentário sobre o filme. Um dos entrevistados é o historiador do cinema Fabio Melleli, que pensa o filme no contexto de sua produção e faz um panorama do gênero histórico-mitológico. Além disso, Melleli mostra como Hércules foi um personagem importante no cinema italiano.

Os “peplum” e tradição histórico-mitológica na Itália

Em meados dos anos de 1960, o gênero histórico-mitológico foi muito popular no cinema italiano. Ele também ficou conhecido como “espada e sandália” ou “peplum”. Este nome, que depois seria adotado, veio dos críticos franceses por causa do peplos, roupa feminina da Grécia antiga.

Os “peplum” dominaram a indústria italiana de 1958 a 1965, com seus cenários do mundo antigo e heróis míticos. Eles surfaram na onda dos grandes épicos de Hollywood, tais como Sansão e Dalila (1949), Os Dez Mandamentos (1956) e Spartacus (1960).

A tradição histórico-mitológica, no entanto, vinha de muito antes. Ela surgiu com o próprio cinema na Itália. No período mudo, por exemplo, Roma e a antiguidade cristã eram temas comuns. Esses primeiros filmes rodaram o globo e ajudaram a firmar a arte cinematográfica no país.

Mas o gênero, apesar das glórias que trouxe para o cinema italiano, caiu no ostracismo no período fascista e no pós-II Guerra. Ele seria retomado mais tarde com o Hércules (1958) de Pietro Francisci, que trouxe de volta às telas as histórias típicas do universo histórico-mitológico.

Hércules, de Pietro Francisci

O filme Hércules foi importante, pois fez nascer todo um filão. Quem deu vida ao protagonista foi o ator americano Steve Reeves, o Hércules por excelência do cinema italiano da época. O maior dos heróis gregos era, sem dúvida, um grande favorito do público.

O roteirista Ennio Di Concini foi um dos grandes nomes do filão histórico-mitológico. Ele não apenas escreveu Hércules, como também pôs em cena todo o cânone do gênero. O cineasta Mario Bava se firmou no início dessa retomada, quando era diretor de fotografia e braço direito de Francisci.

O “peplum” fez grande sucesso nos anos 60. Na verdade, era só incluir no título o nome de um personagem popular que o público corria para ver os filmes. Isso porque eles contavam as proezas de heróis fortes, como Hércules. Nesse sentido, o herói grego tomou o lugar de Sansão, o grande astro bíblico da era de ouro do gênero, nos tempos do cinema mudo.

A visão de Mario Bava

Mario Bava dirigiu seu próprio “peplum” anos mais tarde. Hércules no Centro da Terra é um filme desse gênero porque traz um herói grego e sua história se passa nos tempos míticos. Dessa vez, quem deu vida ao filho de Zeus foi Reg Park, um jogador de futebol da reserva do time inglês de Leeds. Outro personagem grego é o Teseu de George Ardisson.

Mas o filme tem traços de outros gêneros, como o horror e a comédia, com boas doses de ironia. A sua abertura é de um “peplum”, mas, em certa ponto, quando a ação vai para o Mundo dos Mortos, torna-se uma história de horror. Ganha, então, o aspecto de um filme gótico, com as cores e os efeitos visuais que são a marca registrada de Bava.

Os monstros nesse filme dão uma prévia dos mortos-vivos do cinema de horror. Além disso, o vampiro do ator britânico Christopher Lee também surge nesse contexto histórico-mitológico. Bava ganhou fama por seu universo pictórico surreal. A fim de surpreender o espectador, ele explorava a vocação original do cinema para truques e efeitos especiais.

Para saber mais sobre o herói grego, leia o post comemorativo dos 20 anos de Hércules (1997), da Disney.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Hércules no cinema italiano “peplum”, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/hercules-no-cinema-italiano-peplum/. Acesso em: 20/12/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

Uma resposta

  1. A Itália é a terra dos filme exploitation, a qualidade varia como em qualquer produção em massa, como diria Sturgeon, 90 % de tudo é lixo, é engraçado que até o Maciste acabou entrando nessa onda, mas ele é anterior, mesmo os chamados spaguettis, tem filmes de faroeste nos anos 10 e anos 40, bem antes de sofrerem influência dos filmes de Kurosawa.

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