Final Fantasy VII: 25 anos de uma obra-prima

Em 1994, no momento em que teve início seu processo de criação, Final Fantasy VII seria só mais um RPG de Super Nintendo. Mas, já em meados dos anos 2000, era por unanimidade um dos melhores da história. O tempo passou, e a obra-prima da Square chega aos 25 anos sem perder o brilho. Pelo contrário, o game marcou gerações, ganhou um remake e ainda é um dos mais influentes das últimas décadas. Neste tributo, vamos descobrir a importância que o sétimo capítulo da franquia Final Fantasy ganhou desde o seu lançamento. Além disso, vamos relembrar a trama, os heróis e os temas da mitologia, que não deixam de existir no contexto de um mundo futurista e industrial.

Novos ares para a franquia

Final Fantasy VII chegou às lojas em 31 de janeiro de 1997, após migrar para o PlayStation. Na plataforma da Sony, virou a indústria e a própria franquia de ponta cabeça ao introduzir modelos 3D e sequências de animação. Além disso, foi o primeiro título da saga lançado para PC, em 1998. FFVII superou seus predecessores ao incorporar novas ideias ao sistema de jogo tradicional. Assim, lançou as bases do RPG moderno adaptando o gênero para novas gerações de consoles.

O conceito básico foi a criação de um mundo industrial, que vai do steampunk de FFVI ao cyberpunk. Contudo, a concepção futurista não exclui temas e elementos da mitologia mundial. Entre os monstros, por exemplo, há dragões, demônios, golens, gigantes, duendes, grifos, mandrágoras, quimeras (chamadas de “harpias”) e uma versão modificada do basilisco. Nesse contexto técnico-mitológico, controlamos um improvável grupo de heróis em uma jornada épica para salvar o mundo.

FFVII foi um estouro em seu país de origem. Vendeu três milhões de cópias no Japão, nas primeiras 48 horas. Em 2013, somava mais de 10,5 milhões de cópias no mundo todo. Divisor de águas no gênero, FFVII criou uma série de convenções narrativas que mudaram os rumos do RPG daí em diante. O game faz 25 anos em janeiro de 2022, e continua sendo um dos mais influentes de todos os tempos.

A trama de FFVII

Final Fantasy VII abre com uma sequência de ação. Um mercenário salta de um trem para se unir ao grupo terrorista AVALANCHE, cuja missão é mandar pelos ares um reator. O jogador logo descobre que, aos olhos do pessoas comuns, esse é um grupo de heróis. Em contrapartida, o reator pertence à Shin-Ra, corporação que extrai a energia vital do planeta, minando sua própria essência. Mais do que isso, no entanto, a energia Mako é um recurso espiritual. Ao controlá-la para alimentar uma sociedade industrial e tecnológica, a Shin-Ra eventualmente dominará todo o mundo.

À beira de uma crise iminente, um grupo de rebeldes forma o AVALANCHE com o propósito de se opor à Shin-Ra. A rebelião tem início em Midgar, a maior metrópole do mundo, onde há oito grandes reatores. Daí em diante, os heróis tentarão salvar o planeta da exploração capitalista. Se o predecessor FFVI teve uma história madura e um tanto obscura, FFVII não ficou para trás. Além dos elementos filosóficos e religiosos – destacam-se a moralidade e a ascensão da alma –, o game faz dura crítica social ao poder das megacorporações. A crítica não perde sua atualidade, em tempos de aquecimento global.

Os heróis de FFVII

O mercenário Cloud é o rapaz loiro, de cabelo espetado e ombros largos, com uma espada enorme e questões pessoais para resolver. Por isso, embora faça parte da resistência, mantém-se indiferente à sina do mundo. Mas as coisas mudam quando encontra Aerith – a última de uma antiga raça que se comunica com o planeta. Cloud descobre que o herói da Shin-Ra tornou-se uma ameaça. Ele é o soldado Sephiroth, que evoca relações com a cabala judaica. Sua indiferença então ganha contornos de vingança.

Depois que a resistência se forma, Cloud sai à caça de seu rival. Em sua jornada, vai a termos com o passado, com os esqueletos que sempre evitou: sua real identidade e as razões que o fazem lutar. Para descobrir tais segredos, ele trava uma luta interior ao mesmo tempo que ajuda a salvar o mundo.

De certa forma, todos os heróis são vítimas da Shin-Ra. O líder do AVALANCHE é Barret, sujeito grandalhão com uma metralhadora no lugar do braço. Ele não passava de um mineiro no momento em que a Shin-Ra queimou sua cidade até as bases para encobrir um acidente. Amiga de infância de Cloud, a otimista Tifa Lockhart é uma lutadora que jurou combater a corporação, desde que perdeu tudo quando Sephiroth devastou sua cidade natal. A florista Aerith era igualmente jovem quando seus pais morreram pelas mãos da Shi-Ra, por isso vive nos guetos de Midgar.

A história continua…

A fim de dar profundidade à trama de FFVII, a Square se apropriou de vários temas filosóficos e religiosos. Assim, foi capaz de criar uma história rica e complexa. Não surpreendentemente, devido ao enorme sucesso do game desde o seu lançamento, ele daria à luz um universo expandido nas décadas seguintes. De 2004 a 2009, gerou um vasto material de apoio, entre livros, filmes, curtas de animação e games, que aprofundam ainda mais a história. Destacam-se o filme de animação Final Fantasy VII: Advent Children (2005) e o remake de 2020, para PlayStation 4.

Para conhecer o remake, leia Final Fantasy VII: cyberpunk em sua essência.

Leia o próximo artigo desta série em Final Fantasy VIII: o encontro do antigo com o novo.

Referências

Bestiary (Final Fantasy VII) em Final Fantasy Wiki.

Final Fantasy Ultimania Archive Volume 2 (2018).

Final Fantasy: La leyenda de los cristales (2013), de Pablo Taboada.

Os monstros da mitologia grega na série de games Final Fantasy, de Lúcio Reis Filho.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Final Fantasy VII: 25 anos de uma obra-prima, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/final-fantasy-vii-25-anos-de-uma-obra-prima/. Acesso em: 08/10/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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