O Festival de Yule: Assassin’s Creed Valhalla

O game Assassin’s Creed Valhalla trouxe o seu primeiro evento sazonal em dezembro de 2020. Durante um mês, os jogadores podem participar das provas e missões do Festival de Yule, típica festa nórdica. Por ocasião do evento, a neve cobre a vila de Ravensthorpe (base dos vikings, no game), a fogueira é acesa e as árvores são decoradas com sinos e fitas coloridas. As pessoas bebem até cair e se divertem com danças, música e desafios. Nesse evento é possível obter recompensas (moedas especiais, os tokens de Yule), que dão acesso a itens únicos na loja, como armas, trajes e adereços para a base. Vamos descobrir o significado do Festival de Yule, pois ele era uma tradição importante dos povos nórdicos.

Quando ocorria o Festival de Yule

O Yule, Yuletide ou Jól era um festival pagão em homenagem aos deuses da fertilidade. Um deles era Odin, o chefe dos deuses na mitologia nórdica, também chamado de Jólnir por ocasião do festival. Odin era um deus de muitos nomes. A festa ocorria durante o solstício de inverno na Escandinávia (região ao norte da Europa que inclui a Dinamarca, a Noruega e a Suécia). Isto é, no momento em que o sol atinge o zênite e a maior distância da linha do equador, e que marca o início do inverno.

De acordo com a crença antiga, o período que antecedia o Yule era sobrenatural. Portanto, para acalmar os espíritos e satisfazer os deuses, sacrificavam-se animais engordados para esse fim. Os ritos duravam treze dias e eram de grande importância para as regiões nórdicas no inverno – particularmente longo e cruel –, quando a vida seria simbolicamente renovada. Em outras palavras, os povos antigos viam o retorno dos dias de sol como uma espécie de renascimento. Por isso, o Yule era um momento de fraternidade, de contar histórias, cantar e dançar.

Os significados do Yule

Ilustração do Festival de Yule (Die Gartenlaube, 1880).

O Yule tem muitos significados. Conforme explica Régis Boyer, essa era uma grande festa aos mortos do clã. Sendo assim, os banquetes tinham a função de criar laços entre os vivos e os mortos. Para Rudolf Simek, a celebração era essencialmente religiosa e tinha um caráter de sacrifício para a fertilidade. No entanto, a associação entre culto aos mortos e veneração aos ancestrais é incerta. Talvez ela venha dos sacrifícios do inverno, que ocorriam durante a Idade do Bronze europeia. Johnni Langer cita ambos os autores em seu Dicionário de mitologia nórdica (2015).

Do Festival de Yule ao Natal

Acredita-se que o Yule tenha dado origem às tradições natalinas modernas. Isso porque o natal, embora seja um feriado cristão, foi criado com base em manifestações culturais de povos antigos. De acordo com Langer, o cristianismo recuperou o Jól e o substituiu por Noël. Igualmente, a árvore de natal vem do tronco de Yule, que por sua vez vem da Yggdrasil (árvore cósmica, símbolo da vida). Os nórdicos honravam as árvores para afastar as trevas e celebrar o retorno do sol. Enfim, as tradições do tronco de Yule, da cabra, do banquete e dos cânticos, entre outras, revelam costumes pré-cristãos, mas que ganharam novos significados ao longo do tempo.

Com a expansão do cristianismo a partir do século X, o Yule começou a sumir – sem, contudo, sumir por completo. Isso parece claro, já que a Igreja absorveu muitos de seus costumes. Mas James Frazer também mostra como certas celebrações do Yule ainda estão vivas hoje. É o caso dos grandes festivais do fogo (lembrou da fogueira na noite de São João?). De fato, muitas tradições atuais existem graças aos antigos povos nórdicos e seus ritos. AC Valhalla recria o Yule no mundo do game, levando o jogador para dentro dessa grande festa. Essa é uma boa chance de conhecer um pouco da história e da mitologia nórdica.

Referências

Dicionário de mitologia nórdica (2015), de Johnni Langer (org.).

Dicionário de símbolos (2020), de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

Yule, o insólito e violento festival viking que pode ter originado o natal. Em Aventuras na História.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. O Festival de Yule: Assassin’s Creed Valhalla, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/o-festival-de-yule-assassins-creed-valhalla/. Acesso em: 21/11/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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