A odisseia de Janeway em Star Trek: Voyager

Star Trek: Voyager se passa no século XXIV. A trama gira em torno da nave U.S.S. Voyager, que se perde numa zona distante do espaço. Então, sob o comando da capitã Kathryn Janeway (Kate Mulgrew), a nave embarca numa viagem de sete anos de volta à Terra. A premissa, por si só, já nos remete à Odisseia de Homero, épico grego que narra o retorno para casa. A partir dessa cultuada série, vamos abordar o tema da busca e a odisseia de Janeway.

Mais do que uma nave, a Voyager é um lugar no espaço da Federação Unida dos Planetas onde as mulheres inegavelmente têm direitos iguais. A capitã Janeway, a engenheira-chefe B’Elanna Torres (Roxann Dawson), a oficial de ciências Sete de Nove (Jeri Ryan) — e mesmo as principais vilãs, como Seska (Martha Hackett) ou a Rainha Borg (Susanna Thompson) — são todas mulheres. Diversidade e inclusão têm sido a alma da franquia, embora seja necessário juntar todas as séries predecessoras para chegar a esse nível de representatividade feminina.

Janeway se destaca entre os demais capitães de Star Trek, e sua missão é de longe a mais árdua. Depois de levar acidentalmente sua nave ao Quadrante Delta, na fronteira mais distante do espaço, ela inicia a longa viagem rumo à Terra. Os obstáculos e inimigos são muitos, e as chances de chegar em casa, poucas. Lá, metaforicamente ela vira Odisseu. Na odisseia de Janeway, que dura sete anos, ela encontra dezenas de novos planetas e civilizações pelo caminho.

O tema da busca

O tema da busca é muito antigo e quase universal. Decerto, as raízes imediatas de Star Trek se encontram nas mais antigas histórias do Oriente Médio e do mar Egeu, que datam do terceiro milênio a.C. Um bom exemplo é o mito de Gilgamesh, cuja busca pelo segredo da imortalidade talvez seja a base para todas as histórias de busca que vieram depois.

Outro exemplo milenar é a história do andarilho Sinuhe, que surgiu por volta de 1800 a.C. Esse antigo texto egípcio foi precursor dos famosos contos de Sinbad, o Marujo, herói de As Mil e Uma Noites. Sem contar os mitos gregos de Jasão e os Argonautas e a própria Odisseia, bem como as histórias do Judeu Errante e do Holandês Voador, pouco mais recentes.

O tema em questão foi bastante popular no folclore europeu medieval, do qual o exemplo mais famoso é, certamente, a busca do “Santo Graal”. Este termo, oriundo das lendas arturianas, aliás, é frequentemente usado para indicar um objeto ou objetivo de grande importância.

Nessas antigas histórias da humanidade, em geral, o tema da busca gira em torno de objetos ou objetivos bastante específicos. Por exemplo, o segredo da vida eterna, o reino da eternidade, o retorno para casa, a noiva prometida ou a relíquia sagrada, etc. Mas, nas séries de Star Trek, o foco costuma ser muito menos definido ou definitivo.

 A odisseia de Janeway

O tema da exploração é o mote de quase todos os episódios e filmes da franquia Star Trek. A premissa da série original é uma “viagem de cinco anos… para corajosamente ir aonde nenhum homem jamais esteve”, isto é, para explorar a galáxia. Na verdade, muitos episódios fazem paralelo com passagens da Odisseia e de outras histórias de busca citadas acima.

Nesse sentido, o exemplo mais marcante talvez seja o da Voyager. Assim como Odisseu e seus companheiros, Janeway e sua tripulação têm um objetivo que é, simplesmente, superar obstáculos aparentemente intransponíveis e voltar para casa. Os obstáculos incluem alienígenas hostis, traições e buracos de minhoca. Mais do que isso, no entanto, a jornada da Voyager é uma busca pela humanidade. Assim como todas as jornadas de Star Trek (e também a de Odisseu). Esse é um tema recorrente na ficção científica, a exemplo da série britânica Dr. Who.

Leia mais sobre Star Trek em A lenda de Ardra e A comunicação pelos mitos!

Referências

Dicionário de símbolos (2020), de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

Star Trek as Myth: Essays on Symbol and Archetype at the Final Frontier (2010), de Matthew W. Kapell (ed.).

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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