Conforme vimos em “o mundo grego como simulacro“, a DLC “O Destino de Atlântida” de Assassin’s Creed Odyssey abre três reinos míticos, mundos alternativos que existem simultaneamente ao “real” (o mundo grego do período clássico). O objetivo é realizar provas lendárias e desvendar os segredos da “Primeira Civilização”, isto é, do período de dominação dos poderosos Isu (que existiram antes dos humanos). Assim, o jogador pode conhecer mais da história do game. Neste artigo, vamos descobrir que reinos são esses, como são descritos na mitologia grega e sua representação em AC Odyssey.
1. Campos de Elísio: o primeiro dos três reinos
Palco da parte um da DLC, o primeiro dos três reinos é a utopia conhecida como Campos de Elísio. No passado da história de Odyssey, e no universo fantástico da franquia Assassin’s Creed, era um reino Isu, descrito posteriormente pelos gregos como uma das moradas da vida após a morte. Presente de Hades para sua esposa Perséfone, seu acesso era exclusivo aos honrados. A rainha podia moldá-lo ao seu gosto, mas o reino acabou se tornando a sua prisão.
Os Campos de Elísio têm a proteção dos guardas Isu, milícia de Perséfone, e dos Colossos, estátuas que ganham vida caso o jogador as desperte (cuidado!). Fortes e poderosos, os Colossos lançam raios e podem se teletransportar. A inspiração para seu design certamente vem do Deus do Cabo Artemísio, estátua de bronze com cerca de 209 cm de altura recuperada de um naufrágio romano em 1928. A estátua pode representar tanto Zeus quanto Poseidon, já que o objeto em sua mão sumiu e até hoje não se sabe se era um raio ou um tridente.
À esquerda: Colosso, guardião dos Campos de Elísio. À direita: Estátua do Deus do Cabo de Artemísio.
Na mitologia, Elísio era a morada eterna dos virtuosos. Com efeito, os antigos gregos dividiam-no em dois reinos. O primeiro era a ilha paradisíaca dos heróis míticos; o segundo, um reino do submundo – que o rio Lete separava das trevas do Hades. Seus verdes campos eram promessa aos iniciados nos Mistérios, devido às suas virtudes. No game, Elísio é uma ilha flutuante com jardins, florestas e montes, cidades apinhadas na rocha e uma queda d’água sem fim ao seu redor.
2. Mundo Inferior
Parte dois da DLC O Destino de Atlântida, “Tormento de Hades” faz o herói descer aos Inferno. Na história do game, o Mundo Inferior era um reino Isu governado por Hades, que os gregos passaram igualmente a considerar uma das moradas da vida após a morte. O guardião dos portões do submundo é Cérbero, claro, o enorme e feroz cão de três cabeças.
O Mundo Inferior é o reino dos mortos da mitologia grega, lugar vasto e sombrio onde as almas descansam eternamente e voam errantes sobre a terra morta. Os poetas homéricos não conheciam os Campos de Elísio ou o Tártaro (prisão cósmica), de tal forma que todas as “sombras” – de heróis ou vilões – acabavam nas trevas do Hades. Este, aliás, também era o nome do deus dos mortos. Com punhos de ferro, Hades governava o Mundo Inferior e impedia que seus súditos voltassem ao plano dos vivos. Sua esposa Perséfone, não menos cruel, reinava ao seu lado.
3. Atlântida: o último reino
No universo fantástico do game, Atlântida era uma antiga, porém avançada, cidade dos Isu. Sua criação data da Primeira Civilização, com o propósito de ser arquivo do conhecimento desse povo, bem como lugar de existência pacífica entre os Isu e os humanos. As ruínas de Atlântida jazem no fundo no Mar Egeu, na Grécia. Antes da sua destruição, era o deus Poseidon quem a governava.
A princípio, Atlântida era governada pelo Isu Atlas, mas seu ganancioso pai, o rei Poseidon, o destronou. Assim, Atlas e seus nove irmãos ficaram com cargos menores na administração pública. Em seguida, Poseidon criou um sistema de ciclos que previa a destruição e a reconstrução da cidade a cada sete anos. Nos mitos, Atlas é o Titã que leva o mundo nas costas e não tem relação com o deus dos mares.
Personagens lendários e onde habitam
Os personagens míticos têm papel de destaque na DLC O Destino de Atlântida. Um dos principais é Perséfone, que aparece como uma rainha tirânica. Na mitologia, como vimos, ela é esposa de Hades e deusa do Mundo Inferior. Filha de Zeus e Deméter, de acordo com a versão mais comum da lenda, ela foi raptada por Hades (irmão de Zeus e seu próprio tio) enquanto colhia flores nos campos da Sicília. Posteriormente, Perséfone se apaixonou pelo belo Adónis (outro personagem da DLC), que se viu obrigado a dividir o tempo entre a terra e o submundo.
Por sua vez, Hécate é até hoje uma deusa misteriosa, pois não tem seu próprio mito. Em geral, suas funções e atributos a definem mais do que as lendas nas quais aparece. Com o passar do tempo, no entanto, ela ganhou a reputação de deusa responsável pela magia e pelos feitiços. Por estar ligada ao reino das sombras, atribuiu-se a ela a invenção da feitiçaria. Ao lado de Perséfone, Hécate é uma das deusas associadas à passagem para o Elísio. No game, ela é aliada e rival da rainha do submudo.
Referências
Dicionário de mitologia grega e romana (2011), de Pierre Grimal.
Para saber mais sobre a estátua do Cabo Artemísio: https://www.brown.edu/Departments/Joukowsky_Institute/courses/greekpast/4919.html (em inglês).
Como citar este artigo? (ABNT)
REIS FILHO, L. Os três reinos míticos em AC Odyssey, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/os-tres-reinos-miticos/. Acesso em: 01/12/2024.