Quem são os Ciclopes de AC Odyssey?

O Ciclope Estéropes. Imagem capturada pelo autor. Data: 27/04/2020.

Sem dúvida, uma boa surpresa de Assassin’s Creed Odyssey (Ubisoft, 2018) é descobrir que no mundo grego existem monstros lendários. O primeiro a dar as caras é um Ciclope, mas ele não é o único da sua raça. Há outros dois, que também vivem em áreas secretas do mapa. Vamos saber mais sobre esses monstros, como são descritos na mitologia e sua representação no game.

As três raças de Ciclopes

No artigo “entre o mito e a história“, vimos como AC Odyssey reconstrói o mundo grego histórico ao mesmo tempo que inclui personagens e elementos da mitologia grega. Antes de mais nada, quem são os Ciclopes? O termo, no singular, é bem conhecido dos fãs de X-Men, por exemplo. Nos mitos e lendas gregos, esse era o nome dos gigantes de um olho só.

Os mitógrafos antigos classificaram os Ciclopes em três espécies. Os “urânicos” (ou uranianos) eram os ferreiros, filhos primordiais de Urano e de Gaia (o Céu e a Terra). Os sicilianos (pastores) eram personagens do poema épico Odisseia. Os construtores, por sua vez, teriam erguido os monumentos pré-históricos gregos e sicilianos, pois o peso e as dimensões dos grandes blocos de pedra pareciam desafiar a força humana. Daí vem o adjetivo “ciclópico”, ou seja, de tamanho descomunal. Descobrimos o porquê no momento em que achamos os Ciclopes no mapa de AC Odyssey.

Os Ciclopes segundo Hesíodo

Antes de falar dos Ciclopes em AC Odyssey, vejamos como são eles na mitologia. Na Teogonia do poeta grego Hesíodo, os Ciclopes urânicos pertencem à primeira geração divina, pois têm relação com os Gigantes. Têm um só olho na testa e são conhecidos pela força e pela habilidade manual. Seus nomes – Brontes, Estéropes (ou Astéropes) e Arges – fazem lembrar as palavras Trovão, Relâmpago e Raio. Urano (deus do Céu) os aprisionou e seu filho Cronos os libertou, mas eles acabaram presos novamente no Tártaro (prisão cósmica). Quem os libertou definitivamente foi Zeus.

O pai dos deuses soltou os Ciclopes com o propósito de vencer a guerra contra os Titãs. Fez isso depois que um oráculo o avisou que, sem a ajuda deles, não ganharia a batalha. Por isso, os gigantes de um só olho forjaram seu raio e lhe deram o trovão e o relâmpago. Em seguida, deram a Hades (deus do Mundo Inferior) um elmo da invisibilidade e a Poseidon (deus dos mares) seu tridente. Foi assim que os deuses olímpicos derrotaram os Titãs e lançaram-nos ao Tártaro.

O Ciclope Arges centralizado em uma cratera vulcânica. Ele é careca com um moicano preto. Seu único olho parece um farol amarelo. Ele usa ombreiras com pelos castanhos e um cinto com crânios humanos. Carrega uma clava de espinhos na mão esquerda. Atrás dele, um rio de lava incandescente.
O Ciclope Arges vive em uma cratera vulcânica. Imagem capturada pelo autor. Data: 1 de maio de 2020.

Os Ciclopes na Odisseia

Na Odisseia de Homero, os Ciclopes são monstros de um olho só, selvagens, enormes e de força bruta. Eles se alimentam de carne humana e criam carneiros. Já que sua única riqueza são seus rebanhos, não conhecem o vinho e a vinicultura. Moram em grutas, pois não aprenderam a formar cidades.

Depois da guerra de Troia, Odisseu e seus companheiros chegam a uma terra desconhecida, onde buscam abrigo em uma caverna. Nesse ínterim, o Ciclope que morava lá retorna com seus rebanhos e fecha a entrada com uma grande pedra. Seu nome era Polifemo (filho de Poseidon com a ninfa marinha Teosa). Ao deparar-se com os forasteiros, o Ciclope pergunta quem são. Odisseu explica que são gregos voltando de Troia. Em resposta, Polifemo agarra um par deles e os devora.

Na manhã seguinte, o Ciclope devora outros dois homens. Ao cair da noite, pergunta a Odisseu quem ele realmente é. O herói então responde: “Ninguém”. Quando o Ciclope finalmente pega no sono, depois de encher a cara de vinho, os gregos furam seu olho com uma estaca grande e pontuda. Polifemo acorda com muita dor e grita para que os outros Ciclopes venham em seu auxílio, dizendo que Ninguém o machucou. Seus companheiros o ouvem, mas pensam que ele enlouqueceu.

A Baía de Ninguém e outros lugares

Os três Ciclopes de Odyssey são urânicos, mas lembram muito Polifemo, que aparece no poema de Homero como um gigante horrendo e o mais selvagem da sua raça. Adversários poderosos, não é possível vencê-los antes de progredir no game e evoluir bastante o personagem jogável. Brontes vive em uma área subterrânea secreta e Arges, em uma cratera vulcânica. Estéropes vive em uma caverna na ilha de Andros, num local denominado “Baía de Ninguém” – em referência ao episódio da Odisseia citado acima. Os navios encalhados na praia sugerem o trágico fim dos seus tripulantes.

Referência

Dicionário de mitologia grega e romana (2011), de Pierre Grimal.

Odisséia, tradução de Donaldo Schuler (2007).

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Quem são os Ciclopes de AC Odyssey?, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/quem-sao-os-ciclopes-de-odyssey/. Acesso em: 29/03/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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