Os símbolos da Coroa Britânica: o que significam?

Elizabeth II foi uma Rainha pop. Soberana do Reino Unido e da comunidade britânica, ela foi a primeira mulher da Casa de Windsor a se tornar monarca, e seu reinado se estendeu por setenta anos – o mais longo até então. Sua imagem e seu papel político como líder da nação fizeram dela um dos ícones da cultura britânica. Para os fãs da série The Crown, da Netflix, não é novidade que os símbolos da Coroa ajudaram a criar a mística do poder real. Sempre presentes nas coroações e funerais de reis e rainhas ingleses, tais regalias despertam grande curiosidade. Mas o que significam?

EIIR: o mistério da cifra

Para começo de conversa, uma das perguntas mais frequentes fora das ilhas britânicas é o significado das letras “ER”. Associadas à Rainha, elas eventualmente aparecem fora dos círculos oficiais e em diversas regalias, às vezes na forma “EIIR”. Acontece que essa é uma cifra ou abreviação para o nome da Rainha, que significa “Elizabeth II Regina”. Portanto, têm-se o primeiro nome da monarca (E), que foi a segunda de seu nome (II), isto é, a segunda Rainha Elizabeth; e o termo latino para Rainha (Regina, abreviado como R). Cada monarca recebe uma cifra, que é exclusivo.

O Orbe do Soberano

Entre os símbolos da Coroa, destaca-se uma esfera com uma cruz. Ela simboliza o poder divino e o domínio de Cristo sobre o mundo, pois as monarquias se sustentam na crença de que o soberano é um representante de Deus na Terra. Serve, portanto, como um lembrete da primazia do cristianismo, e de que o poder do monarca vem de Deus.

Também conhecido como Orbe do Soberano, a esfera data da coroação de Charles II, em 1661. Com 30 cm de largura e 1,32 kg, é uma esfera de ouro cravejada de 9 esmeraldas, 18 rubis, 9 safiras, 365 diamantes, 375 pérolas, uma ametista e um cristal. As pérolas dividem a joia em três seções, que representam os três continentes, de acordo com a crença medieval.

O novo monarca recebe o Orbe durante a sua coroação, depois que veste o Manto Imperial. O Arcebispo de Canterbury o coloca na mão direita do soberano, e diz: “Receba este Orbe posto sob a cruz e lembre-se de que o mundo todo sujeita-se ao Poder e Império de Cristo nosso Redentor”. Esse ritual chama-se investidura. A esfera representa a pessoa oriunda de duas naturezas, a divina e a humana, fazendo a ponte ou união entre o céu e a terra. Em outras palavras, representa os “dois corpos do rei”.

O cetro real

Uma das regalias mais ostentosas da Coroa britânica é o cetro. Com 92 cm e 1,1 kg, o bastão de ouro contém o maior diamante do mundo, que os agentes do imperialismo trouxeram da África do Sul em 1905. Dois anos depois, a fim de reatar os laços entre a Grã-Bretanha e sua colônia depois da Guerra dos Bôeres (1880-1902), tais agentes presentearam Eduardo VII com a joia. A lapidação do diamante em Amsterdã fragmentou-o em nove pedaços e 97 diamantes menores. O maior deles, com impressionantes 530 quilates, passou a integrar o cetro em 1910, um ano antes da coroação de George V. O bastão de ouro possui três seções, com o magnífico diamante no topo, em uma estrutura em forma de coração. O pomo (empunhadura) do cetro é esmaltado e cravejado de rubis, esmeraldas, safiras e diamantes.

O cetro remonta à mitologia grega; na mão esquerda de Zeus, representava o direito de fazer justiça. Nos tempos modernos, é sinal da boa governança, bem como da força e da autoridade do rei, pois é uma extensão do seu braço. Ao longo do tempo, tornou-se símbolo do poder dos soberanos ocidentais. Durante sua coroação, enquanto veste o Manto e a Coroa Imperial, o monarca britânico segura o cetro na mão esquerda. O Arcebispo, então, diz: “Receba o cajado da Equidade e da Misericórdia. Seja tão misericordioso a ponto de não ser negligente; então faça a justiça para não se esquecer da misericórdia. Castigue os ímpios, proteja e assista os justos, e conduza seu povo no caminho que deve seguir”.

Os símbolos da Coroa e seu futuro

Junto com os trajes do soberano e de seu consorte, as Joias da Coroa são mantidas a sete chaves na Torre de Londres. É o caso do Orbe e do cetro, símbolos da Coroa e da autoridade máxima da monarquia britânicas. Conforme vimos, esses símbolos estão presentes em todas as investiduras desde a de Charles II, em 1661, mas existem desde muito antes. Devido à sua importância, certamente serão usados na coroação de Charles III, filho de Elizabeth II e futuro rei da Inglaterra.

Referências

Dicionário de símbolos (2020), de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

Os Dois corpos do rei: um estudo sobre teologia politica medieval (1998), de Ernst Kantorowicz.

Symbols of Monarchy: the Orb and the Sceptre (The Crown Chronicles, 20/08/2016), por Victoria Howard.

Leia mais sobre a realeza britânica

O simbolismo do cervo em The Crown

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Os símbolos da Coroa Britânica: o que significam?, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/os-simbolos-da-coroa-britanica-o-que-significam/. Acesso em: 04/04/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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