Wolverine, o adamantium e o lendário metal grego

No universo da Marvel Comics, há um metal que se chama adamantium. De composição química desconhecida, ele é um tipo de aço extremamente rígido, de integridade estável. É, portanto, quase indestrutível e pode resistir até mesmo a explosões nucleares. Criado pelas mãos do homem, é ele que reveste o esqueleto do Wolverine, dando ao mutante resistência sobre-humana; bem como suas lâminas, que atravessam e cortam qualquer coisa, exceto o escudo do Capitão América. No entanto, ao contrário de outras criações ficcionais, esse metal vem da mitologia grega. Vamos conhecê-lo!

A adamantina nos mitos gregos

Em Immortals Fenyx Rising (2020), game de aventura ambientado na Grécia mítica, é possível forjar poderosas armas de adamante. Para quem nunca ouviu falar, este é um material lendário extraído da natureza ou forjado do amálgama de metais duros. As origens do termo vêm do grego adamas e do latim diamas, que, etimologicamente, deram origem ao diamant do francês arcaico, isto é, diamante. Ao longo do tempo, o adjetivo adamantino passou a definir o que tem o brilho e a dureza da pedra preciosa. Também se atribui a pessoas ou coisas de evidente firmeza, integridade ou incorruptibilidade. Isso porque o adamante, tão presente nos mitos gregos, tem a qualidade de ser indestrutível depois de solidificado.

Podemos citar alguns exemplos. Com uma foice, o Titã Cronos castrou seu pai, Urano; já o herói Perseu decapitou a górgona Medusa com a adaga que ganhou de Hermes ou Hefesto. Este fez para a deusa Hera suas sandálias. Na tragédia Prometeu acorrentado (séc. V a.C.), do dramaturgo grego Ésquilo, Zeus aprisionou o Titã na rocha em grilhões inquebráveis. Os gigantes encontraram esse mesmo fim no início dos tempos. Na Eneida (19 a.C.), do poeta romano Virgílio, os portões do Tártaro (prisão cósmica) sustentam-se em pilares “que poder algum do homem, ou melhor, nem sequer os filhos do céu poderiam na guerra desarraigar”. As lâminas, as correntes, os portões, as sandálias… tudo é feito de adamante (do grego αδαμας, que significa “indomável”). De acordo com o poeta grego Hesíodo, o elmo de Héracles também era adamantino. Nos quadrinhos, essa característica deu origem a outro metal…

Projeto Arma X: adamantium até os ossos

Desde que o termo “diamante” passou a referir-se à pedra preciosa de maior dureza, sua variante arcaica ganhou conotações poéticas ou mesmo anacrônicas. Ao longo do tempo, “adamantino” tornou-se nome ou atributo de vários elementos na ficção. O exemplo mais conhecido é, sem dúvida, o adamantium do Wolverine. Isso se deve, em grande medida, à popularidade do personagem – herói, assassino e lobo solitário –, cujos poderes eram originalmente seu fator de cura e regeneração. No entanto, depois que ele foi cobaia de uma experiência, o raro metal passou a fazer parte de sua constituição.

O adamantium surgiu primeiramente em maio de 1969, na edição 66 na revista Avengers. Nessa história de Roy Thomas e Barry Windsor-Smith, o Homem de Ferro e o Thor unem-se aos Vingadores para combater o cientista louco Myron MacLain, que criou um cilindro do material. Décadas mais tarde, no fim dos anos 1980, Wolverine foi submetido ao Projeto Arma X, que revestiu seus ossos e garras retráteis com o metal fictício. Como resultado, todo o seu corpo e sua natureza animalesca se modificaram. Assim, ele tornou-se um adversário ainda mais letal. Esse arco também foi explorado no game Wolverine: Adamantium Rage (Acclaim, 1994). Logo em seguida, o lobo solitário se uniria aos X-Men, equipe de mutantes que lutam para garantir a paz entre sua espécie e os humanos.

Para que serve o adamantium?

Conforme vimos, o adamante dos mitos gregos permitiu forjar armas e equipamentos divinos. Nos quadrinhos não é diferente, pois o adamantium dá a personagens sobre-humanos extensões poderosas de seus corpos. No universo Marvel há variações dessa substância, assim como outros metais fictícios; é o caso do vibranium, por exemplo, que constitui o escudo do Capitão América, os apetrechos do Cavaleiro da Lua e as garras de Shuri, princesa de Wakanda e irmã do Pantera Negra. Além destes, há diversos exemplos entre armas, armaduras, projéteis e membros biônicos feitos desses materiais, cujas qualidades “indomáveis” são sempre as mesmas. Não por acaso, apenas seres com poderes divinos ou telepáticos (isto é, Thor e Magneto, respectivamente) podem manipulá-los. Do contrário, tais ligas metálicas permanecem rígidas e indestrutíveis a quaisquer tipos de ataque ou fontes de energia.

Referência

“Escudo de Héracles”, de Hesíodo (Trad. Jaa Torrano, 2000).

“Fábulas”, de Higino (Trad. Santiago Rubio Fernaz, 1997).

Marvel Database. Disponível em: https://marvel.fandom.com/wiki/Marvel_Database.

The Mighty Avengers. Marvel Comics Group, n. 66, jul. 1963.

Marvel Comics Presents. Marvel Comics Group, n. 72-84, 1988 [arco de histórias do Wolverine]. Disponível em: https://www.marvel.com/comics/discover/1269/marvel-comics-presents-weapon-x.

Theoi Project. Disponível em: https://www.theoi.com/.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Wolverine, o adamantium e o lendário metal grego, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/wolverine-o-adamantium-e-o-lendario-metal-grego/. Acesso em: 01/04/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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