Mitologia Nórdica

Os mitos e lendas nórdicos marcam presença constante nas artes e na cultura pop. De fato, as antigas histórias de deuses, deusas, guerreiros, heróis, seres mágicos e lugares imaginários exercem incrível fascínio e despertam grande interesse em artistas e no público em geral. O escritor J. R. R. Tolkien, por exemplo, se inspirou nessas histórias para criar o épico de fantasia O Senhor dos Anéis (1954), obra que, por sua vez, influenciou uma série de outras narrativas, além da cultura dos role-playing games, ou RPGs. Já nos quadrinhos, temos o Poderoso Thor, da Marvel, que hoje é personagem de filmes e animações do universo cinematográfico da editora, todos de grande sucesso. E não para por aí! Os games Hellblade (2017), God of War (2018) e Assassin’s Creed Valhalla (2020) são apenas alguns exemplos de como a mitologia nórdica ainda exerce grande apelo e inspira as mais diversas formas de arte. Vamos conhecê-las!

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A mitologia nórdica é pop!

“A mitologia nórdica nos apresenta os mitos de um lugar gelado, com noites muito, muito longas no inverno e dias intermináveis no verão; mitos de um povo que não confiava plenamente em seus deuses ou nem sequer gostava deles, ainda que os respeitasse e temesse”. É o que diz o escritor britânico Neil Gaiman, que tomou contato com Asgard e seus habitantes pela primeira vez quando ainda era criança. Desde então, os mitos e lendas dos antigos escandinavos estão entre seus favoritos. Esse universo, de tão influente para Gaiman, levou-o a escrever Mitologia Nórdica, no qual reconta muitas dessas histórias ancestrais.

História e Religião se misturam

Ao que tudo indica, os deuses de Asgard se originaram na região da Alemanha, depois se espalharam pela península escandinava e para os territórios dominados pelos vikings – como as ilhas Órcades e a Escócia, a Irlanda e o norte da Inglaterra. Lá, os invasores batizaram acampamentos em homenagem aos antigos deuses, que deixaram suas marcas nos dias da semana, na língua inglesa. De Tyr, o filho maneta de Odin, vem tuesday (terça-feira); de seu pai vem quarta-feira (wednesday). De Thor e Frigga vêm, respectivamente, quinta-feira (thursday) e sexta-feira (friday).

A ponta do iceberg

Em contraste com as populações greco-romanas, os nórdicos só tiveram culturas letradas depois de se tornarem cristãos. Os antigos mitos do Norte europeu, portanto, foram bem menos registrados que os do mundo clássico. Das suas lendas e práticas sociais muito se perdeu, já que a Igreja, a fim de impor a nova fé, não aprovava os registros.

O pouco que conhecemos chegou até nós através do folclore, na forma de recontos, poemas e prosa. Depois que o cristianismo já havia substituído as antigas religiões, as histórias compiladas só viram a luz do dia pelo medo de que, do contrário, suas figuras de linguagem poéticas se perdessem para sempre. A expressão “lágrimas de Freya”, por exemplo, era uma forma de se referir ao ouro. Alguns mitos descreviam os deuses nórdicos como homens, reis ou heróis para que seus feitos pudessem ser contados no mundo cristão.

As antigas religiões

Antes de se tornarem cristãos, os povos do Norte europeu se dividiam em tribos e clãs. Não havia instituições políticas e religiosas que impusessem uma uniformidade de crença. Havia, portanto, considerável diversidade regional. Nos últimos séculos antes da era cristã, os celtas habitaram a Grã-Bretanha, a Irlanda e vastas extensões da Europa central e ocidental. Não possuíam um panteão comum de deuses; embora o culto a certas divindades fosse disseminado, nenhuma era adorada em todo o território. Apenas os celtas tinham instrução sacerdotal formal. Seus sacerdotes eram os druidas, que passavam por longos aprendizados. Eles deviam memorizar todas as leis, história, mitos e práticas religiosas de sua tribo.

Por outro lado, entre os nórdicos pré-cristãos, eram os chefes e reis locais que conduziam os rituais religiosos. Não existia propriamente uma teologia nas antigas religiões, que focavam no sacrifício – de tesouros, de animais e, às vezes, de gente – para angariar favores ou aplacar a ira dos deuses.

Origens históricas

Alguns dos mitos e lendas mais conhecidos do Norte europeu se estabeleceram, ou se originaram, nos anos após a queda do Império Romano, em V d.C. As primeiras lendas do rei Artur, por exemplo, o apresentaram como um heroico senhor da guerra, o defensor dos celtas britânicos contra os anglo-saxões germânicos que invadiram a Grã-Bretanha (depois que as tropas romanas bateram em retirada em 410 d.C). Após a conquista normanda em 1066, escritores franceses e ingleses se apropriaram de Artur e passaram a retratá-lo como o rei de toda a Inglaterra, idealizado e cavalheiresco.

A lenda do herói matador de dragões Sigurd inclui figuras históricas reais, que comprovam sua origem em V ou VI d.C. Embora os mitos e lendas irlandeses remontem a origens bem mais antigas, muitos deles também se inserem num contexto histórico. Os mitos nórdicos inspiraram muitas obras de arte, música e literatura – desde a pintura pré-rafaelita dos contos arturianos até as óperas de Richard Wagner, O anel dos nibelungos, e o livro de J. R. R. Tolkien, O senhor dos anéis. Tornaram-se tema constante no imaginário contemporâneo – dos quadrinhos e filmes do Poderoso Thor, da Marvel, a séries como Vikings e games como Hellblade, God of War e Assassin’s Creed Valhalla. E seu apelo continua forte.

Referências

O livro da mitologia (2018), por Philip Wilkinson e outros.

Mitologia nórdica (2017), de Neil Gaiman.

Dicionário de mitologia nórdica (2010), de Johnni Langer (org.).